domingo, 22 de outubro de 2017

'Se'

Aqui sou colunista, mas sou também prefeito, aliás, hoje mais prefeito que colunista.

Quando decidi embarcar nessa “adventure” pública, rasguei dentro de mim uma amarra, aquela que deixa o indivíduo de espectador e crítico das humanas alternâncias e tragédias. Fui assim catapultado na arena.

Não teria acontecido isso sem violentos estímulos. Passei por anos de privações e sofrimentos, amadureci, nas horas solitárias de meditação.

Este mundo poderia ser melhor “se”... é o que mais se escuta.

E quantos outros “se” encontram-se nas rodas com amigos, na mesa de jantar, na sombra de uma varanda, lendo e indignando-se com os noticiários.

“Se” no lugar de fulano, que apronta coisas do arco da velha, estivesse alguém mais probo, justo e sábio, a vida de todos seria melhor. Quanto sofrimento aparentemente inútil poderia ser evitado? Quantos seres “esquecidos” passando por faltas absurdas. Pois é.

Recebi agora a mensagem: “Sou mãe de três filhos, dois deles nascidos com graves insuficiências neurológicas, em estado vegetativo. Preciso de fraldas, de dietas, de apoio... não tenho onde morar e, mesmo na fila do Minha casa, Minha vida, nunca me chamam...”. De casos assim na cidade que me escolheu como prefeito existem centenas. Pessoas que nesta terra e neste momento passam por provações de origem distante e velada, contudo “permitidas” como algo necessário. E cabe a quem enxerga dar o que puder. Haja pena de nós, pecadores!

Isso é um quase engano, em certo sentido é um engano mesmo imaginar que não exista sentido. Na vida a cada momento acontece algo inefável, justo desfecho que traz à tona duas distintas sentenças, uma relativa ao mérito, ou recompensa, e outra ao ensinamento, ou lição, para que nosso livre-arbítrio, admoestado, se enriqueça.

Diziam os latinos: “Cada um é artífice de sua sorte”. Disso não se escapa. O destino de um grupo é o somatório dos méritos gerados pelo conjunto. Um edifício de tijolos, quando estes são preparados na olaria, desmoronará.

Imaginemos agora que apareça um condutor de um rebanho, empurrado no pedestal e enxergado como salvação pelo povo. Ele, ao vencer, será exatamente o fator de um inefável destino. E, se esse ungido for um egoísta irresponsável, um demagogo barato, um safado da pior espécie, um despreparado irresponsável e vaidoso, a razão de sua ascensão gerará o merecimento dos governados.

As “parcas romanas”, Clotho, Lachesis e Atropos, explicavam e continuam a certificar que o destino tem guardiões que permitem que seja feita justiça, mesmo que aparentemente tardia. Sempre será feita em algum lugar do universo no momento mais oportuno.

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Pode aparecer de repente um “messias”, um herói, um profeta, um líder carismático, assim como um lobo em pele de cordeiro, um cruel ditador, mas sempre aparecerá o que é imprescindível ao cumprimento dos merecimentos. Nossa labuta altera nossa individualidade e acelera a melhoria do conjunto. Se uma folha que cai na selva tem o poder de mudar o universo, nossas ações mais ainda. Importante cada um, mais que reclamar, fazer o que lhe for possível.

A suposta esperteza de um ou outro dos candidatos, suas estratégias aparentemente conscientes não passam de engendração de fios que se entrecruzam atendendo o inelutável merecimento coletivo.

O sofrimento é útil para a mudança mais que a felicidade. Um presidente lastimável acelera o fim de um ciclo. A podridão, embora triste, abre espaço para uma renovação.

Li ontem que uma nave extraterrestre teria descido num lote da Baixada Santista, em Peruíbe (SP), numa missão que visaria não permitir um mal maior. Que loucura! Outros fenômenos alienígenas se intensificaram para evitar a deflagração de uma guerra nuclear e um retrocesso de milhares de anos.

Nossa situação é desesperadora; quando aparece uma luz no fim do túnel, alguém a apaga. Só um milagre, só uma força alienígena para fazer esquecer nossos egoísmos?

O resgate da Europa encardida de conservadorismo se deu com a Segunda Guerra Mundial, que sacudiu os indivíduos em seus alicerces, que fez amadurecer a consciência coletiva.

Mas de bom hoje aparece uma recuperação, um distanciamento das desventuras políticas. A economia nacional reage livrando-se daquela outra, anabolizada por estádios, empréstimos malucos, que escondiam a corrupção.

Participar da vida pública é uma atitude de responsabilidade. Apagando os “se” e colocando o “sim” com a responsabilidade que temos uns com os outros.

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