domingo, 22 de outubro de 2017

A lei é para os outros

Estou furioso. O que é péssimo para escrever uma crônica de jornal, que exige um mínimo de serenidade. A vontade é de xingar, ofender, esculachar o que Roberto Athayde chama de “alta ralé” brasileira.

Uma tabelinha maligna entre Judiciário e Legislativo escancarou as portas da impunidade para os bandidos travestidos de políticos. Perdeu, Brasil! No nosso surrealismo político, ou realismo absurdo, 44 senadores, sendo 17 réus e indiciados na Justiça, atacam a “parcialidade” da PGR e dos juízes e livram o colega Aécio Neves da lei — de viva voz, cínica e deslavadamente, para salvar a pele quando chegar a sua vez. Se é que vai chegar..



Ninguém vai votar pela criação de sua própria câmara de gás, ou Senado de gás. Aécio vai ser levado ao Conselho de Ética? Presidido pelo patusco João Alberto, fiel serviçal de Sarney e lépido arquivador do que lhe for ordenado? Risos! Gargalhadas! Vontade de chorar. É mais fácil o Marcelo Camelo passar pelo buraco de uma agulha do que alguém ser cassado.

Eles nunca tiveram tanta certeza da impunidade: se forem condenados pelo Supremo, contam com a bancada da bandalha, com direita, esquerda e centro unidos na privatização do dinheiro público e na defesa de seus colegas de crime.

Ser defendido com veemência por Jader Barbalho, Romero Jucá e Renan Calheiros já é uma condenação. Assim como Temer ser garantido como 101% honesto por Maluf equivale a um atestado de maus antecedentes. Cala a boca, Maluf, devem ter pensado no Planalto. Quem sabe lhe damos uns cargos para ele parar de falar bem do Temer?

Eduardo Cunha está se sentindo injustiçado e discriminado. Por que só ele? A bancada que ele bancou e elegeu se acovardou e o traiu, mas se fizerem uma nova votação, com as novas garantias de impunidade, é bem provável que o inocentem.

Delcídio do Amaral já está todo animadinho preparando recurso contra sua cassação pelos mesmos colegas que absolveram Aécio. Afinal, todos são iguais perante a transgressão da lei, pelo menos no Senado e na Câmara. Como queria Romero Jucá, a sangria foi estancada, a Lava-Jato agoniza, os bandidos comemoram.

Nelson Mota

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