terça-feira, 24 de outubro de 2017

O custo Temer

O mandato do presidente postiço Michel Temer está precificado. O valor final não foi fixado, pois o vergonhoso taxímetro que percorre o trajeto de sua sobrevivência política ainda roda. Segunda denúncia, bandeira dois.

A culminância – ainda que sempre possa vir um “tiro” mais alto – foi a portaria que cria dificuldades para o combate ao trabalho escravo. Agora, flagrante de trabalho análogo à escravidão, só acompanhado de policial, e quando estiver comprometendo o direito de ir e vir. Empresa espoliadora em lista suja apenas duas vezes ao ano, e mesmo assim com autorização ministerial. Tudo para atender ruralistas escravocratas, com seus cerca de 200 votos na Câmara. Reduzir em 60% suas multas ambientais também fez parte da negociata.



Para defender essa aberração, Temer mente: diz que a Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, “fez sugestões sobre a portaria” ao Ministro do Trabalho. Nota da PGR o desmente, ao afirmar que o Ministério Público quer a revogação da medida. O clamor contra o mais recente retrocesso é nacional e internacional. Mas, até esta quarta-feira, quando a Câmara decide se autoriza ou não o processo penal contra Temer e seus ministros Moreira e Padilha, o Exterminador de Direitos nada fará. Sem essa de prejudicar o degenerado “toma lá, dá cá!”

O preço para salvar Temer da mera apuração de obstrução à Justiça e participação em organização criminosa (e seus ministros de processo por corrupção passiva), também é composto pela liberação de emendas parlamentares, pelo alongamento do pagamento de dívidas empresariais (no novo Refis) e pelo preenchimento de cargos no governo. Segundo pesquisa da FGV, 668 no alto escalão em junho, 731 em agosto, em crescente que agora pode chegar a mil! A qualificação técnica não importa: o que conta é a indicação partidária. Porta aberta à corrupção.

Até o que é positivo fica comprometido. A coalizão de investigados, serviçais do mercado total e do Estado mínimo, adiou a privatização dos aeroportos. Não porque tenha compreendido a importância de manter o controle público sobre vários desses espaços estratégicos para a soberania nacional, mas porque o loteamento de cargos na Infraero assim o exige. Razões nanicas, mesquinhas. Pistas abertas à corrupção.

É tragicômico esse método carcomido. José Simão descreve a oração temerária: “Belzebu, Lúcifer, Forças do Mal! Me ajudem a derrubar a denúncia porque o dinheiro para comprar deputado tá acabando” (Folha de S. Paulo, 21/10/2017)

A CCJ da Câmara aprovou a “certidão de nada consta” do tucano Bonifácio de Andrada, mas o governo perdeu votos em relação à denúncia anterior. Para vencer por 39 a 26, obteve a fidelidade (de amor remunerado?) do PMDB, PP, PSD, PR, DEM, PRB, PTB, SD, PSC e PROS, o que deve se repetir no plenário.

A Câmara, ao se posicionar assim um dia depois do retorno de Aécio Neves decidido pela maioria dos senadores, disputa com a outra casa do Congresso Nacional o indigno campeonato da autodesmoralização do Parlamento.

“Nada como um dia depois do outro, com uma noite no meio e Deus em cima”, diz a sabedoria camponesa. Os que se empenham em “estancar a sangria” e preservar a intocabilidade da casta política ainda correm riscos na Justiça. E certamente receberão o troco nas urnas. O voto de cada um hoje será relembrado amanhã, quando o povo for chamado a votar.

Em tempo (de tragédia): mais que o bullying, a ser pedagogicamente enfrentado, o que ceifa vidas é o armamentismo e a barbárie da eliminação de quem incomoda – que demanda combate cultural e político.

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