O primeiro caso a gente já conhece: os Batista receberam mais de 10 bilhões do BNDES para comprar empresas no estrangeiro que iriam gerar milhares de empregos lá fora. Uma parte dessa fortuna, como eles mesmo confessaram ao MP, foi destinada a comprar políticos e executivos de estatais aqui mesmo, no Brasil. Pois bem, os irmãos Batista estão protegidos pela imunidade jurídica, mas respondem a processos que, no futuro, podem levá-los à cadeia. Além disso, pelo acordo de delação com o Ministério Público, estão devolvendo os bilhões em suaves prestações mensais. Dos males, o menor.
O segundo caso é proporcionalmente pior, pois é dinheiro jogado fora, que não movimenta a economia nem gera emprego: os recursos destinados aos partidos políticos (quase R$ 1 bilhão de reais este ano). Vamos falar apenas de um, o mais estapafúrdio de todos eles. Mas antes, uma historieta: era uma vez um ex-vereador de Planaltina, em Goiás, que sempre sonhou que um dia seria dono de um partido, um dos negócios mais rentáveis da república. A partir desse sonho organizou um grupo, a quem prometeu dias prósperos e felizes, e incentivou motoristas de Vans, seus amigos, a recolher assinaturas dos passageiros para legitimar a legenda.
E os desejos dele chegaram mais rápido do que imaginava. Em 2013, às vésperas da reeleição da Dilma, eis que suas aspirações se concretizam. O ex-vereador Eurípedes Júnior, finalmente, criou o Pros, um partido de aluguel que iria, quatro anos depois, fazer a felicidade da família dele e de seus amigos que o ajudaram a botar para funcionar a máquina mais fantástica de fazer dinheiro, de dar inveja ao saudoso Tio Patinhas. Pronto, gente, estava aberta a porta da esperança. O dinheiro, a partir daquele momento, chegaria às contas do Pros como se os sobrinhos do velho avarento tivessem aberto as torneiras do seu tanque de moedas.
Como presidente do Pros, aliás, da engenhoca, logo Eurípedes Junior virou um cara importante. Trouxe para dentro do partido os irmãos Gomes – Ciro e Cid Gomes – do Ceará. Foi açodado pela Dilma e logo estava em audiência com a presidente, que lhe ofereceu uma fortuna para ele vender o tempo de televisão da legenda. Em quatro anos já acumulava R$ 35 milhões nas contas da agremiação. Em 2014, elegeu 12 deputados federais e chegou a 21 representantes na Câmara. Hoje lhe restam apenas cinco.
Mas no sonho, o gênio da garrafa que o assessorava, limitou os seus pedidos. Ele pediu um avião, desejo logo realizado. Mas em vez de um, Junior comprou outro, o que teria contrariado o homem da garrafa. O primeiro é um helicóptero, modelo R-66, prefixo PP-CHF, adquirido ainda na caixa por R$ 2,8 milhões. E para que a aeronave não aterrizasse em uma casa modesta – sua antiga moradia -, ele gastou a bagatela de R$ 600 mil na reforma para combinar com o novo brinquedinho, e, agora, acumula R$ 5,4 milhões em imóveis. Junior é um cara esperto. Tão esperto que tapeou até o gênio, quando apareceu com outro o avião, um bimotor, para viagens um pouco mais longe, que não estava entre os seus pedidos.
Aí, para variar, Júnior teve um pesadelo. Nele, um grupo de homens de preto apareceu em seus delírios kafkianos e desconfiaram das negociatas dele à frente do partido, que tem R$ 14 milhões em caixa, e o questionaram. Os procuradores do Ministério Público o acusam de quatro crimes, mas o principal deles foi a venda da legenda por R$ 7 milhões a Dilma, segundo delação do diretor da Odebrecht, Alexandrino Alencar, em delação premiada ao MP. Esta semana, ao acordar sobressaltado, viu que o gênio, seu benfeitor, estava fora da garrafa. Aborrecido, ele tinha sumido. Júnior apelou, então, para os seus advogados para encomendar um habeas corpus preventivo que garantiria sua liberdade. Ele foi negado pela Justiça.
Junior, não dá para devolver o gênio à garrafa. Não sei se você sabe, mas para esses caras da garrafa só se faz um pedido.
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