sábado, 1 de julho de 2017

Uma república macunaímica

Não custa repetir: o impeachment de Dilma Rousseff não encerrou a crise política. Pelo contrário, simplesmente destampou a panela de pressão da crise sistêmica da democracia brasileira. As contradições políticas se aprofundaram de tal forma que a solução, relativamente tranquila, obtida após o processo de impeachment de Fernando Collor – que não foi concluído, registre-se –, não pode se repetir. 2017 não é 1992 especialmente porque agora o País passa por uma crise sistêmica, que envolve os três poderes da República. Vivemos, portanto, não uma crise política, como outras ao longo da história nacional, mas o colapso do Estado democrático de Direito.


Os três poderes estão carcomidos. As instituições não conseguem dar conta da complexidade da conjuntura. A sociedade civil a todo momento manifesta sua profunda insatisfação. Quer um Estado que funcione, que respeite a coisa pública, que seja ágil, que valorize os valores republicanos.

A sociedade civil apresenta um ar de enfado, até de apatia. Imaginava também que após o impeachment o País caminhasse para o pleno funcionamento da democracia, após a maior mobilização popular da nossa história. Acabou acreditando que as mazelas petistas e seu projeto criminoso de poder seriam extintos após a saída de Dilma. Ledo engano. Por um lado devido a permanência na estrutura do Estado dos representantes do PT e, de outro, porque não houve qualquer mudança na forma de ação da máquina governamental.

A tensão política se agravou ainda mais desde a segunda quinzena de maio. A crise sistêmica se revelou sem qualquer disfarce. Houve em algum momento da história do Brasil uma troca de acusações entre o procurador-geral da República e o Presidente da República como vimos na última semana? E um presidente, no exercício do cargo, ser denunciado por corrupção? E um presidente réu? É uma possibilidade na democracia macunaímica que vivemos.

Estamos chegando a um ponto de absoluta desmoralização das instituições, da elite política, dos padrões morais e éticos, e, pior, sem encontrar um caminho que permita sair dessa conjuntura. Não há, ao menos no momento, um caminho e nem a forma de como percorrê-lo. E onde estão os condutores? E as ideias? Algum projeto para o País? O que há então? Nada. Resta o vazio e a desesperança.

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