Ao perceber a intensificação dos movimentos de Rodrigo Maia, Michel Temer passou a desconfiar horrores do seu aliado. No momento, os dois dançam o balé da enganação. O presidente da República diz confiar plenamente na lealdade do deputado. E o presidente da Câmara, primeiro na linha sucessória, chama de especulação o noticiário sobre os acertos que já fez com o PSDB para consolidar sua condição de pretendente ao trono —não para uma substituição temporária de seis meses, caso Temer vire réu no Supremo Tribunal Federal, mas para uma transição completa, até 2018.
Temer derrubou sua blindagem de presidente ao receber o delator Joesley Batista para uma conversa desqualificada. Desde então, os aliados condicionam o apoio ao governo à ausência de fatos novos. E os tais fatos novos não param de desabar sobre a cabeça do presidente. O penúltimo foi a prisão do amigo Geddel Vieira Lima. Os próximos serão as delações de Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro.
Ao permitir que sua língua fizesse um striptease diante do gravador de um delator, Temer ateou fogo às próprias vestes. Perdeu a autoridade para falar em conspiração. Rodrigo Maia teve um bom professor. Quando Dilma entrou em processo de autocombustão, Temer também tomou distância. A semana termina com o condomínio governista em chamas. A dúvida é saber quanto tempo o país resiste a mais esse incêndio. Se na segunda-feira você acordar, olhar em volta e só enxergar cinzas, é porque estamos mal.
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