A semana começou tranquila no Brasil, com os irmãos Freeboys desejando a todos boas compras na 5a Avenida e muita diversão na Broadway. Como se sabe, o Papai Noel antecipado do companheiro Janot deu aos fenomenais donos da JBS o presente de suas vidas (Nova York é linda na primavera) – e olhem que o bom velhinho de São Bernardo já tinha dado uma lembrancinha bilionária aos meninos. Eles ainda tiveram a sorte (que garotos venturosos!) de encontrar pelo caminho o companheiro Edson Fachin, um homem bom, que não economiza seus poderes para ajudar a quem precisa.
Agora segure a emoção para o final feliz: um grupo de artistas resolveu dar apoio político a essa conexão dourada de brasileiros que não desistem nunca (de ficar com o que é seu).
A estratégia é a seguinte: fazer campanha pública – aquelas com camisetinhas, videozinhos, caras e bocas bem ensaiadas – para inventar uma prorrogação do mandato de Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral da República. Uma coisa natural, democrática, tipo o Sarney quando resolveu dar a si mesmo mais um ano na Presidência, ou seus antecessores de farda, que também resolveram dar uma prorrogada no governo deles, tipo assim, para sempre.
A ideia é muito boa – como todas as que vêm desse grupinho iluminado, que inventou o remake das “Diretas já” (na praia, que ninguém é de ferro) com o cuidado de não convidar para a festa o companheiro Maduro, amigo de fé e irmão camarada dos democratas de Copacabana. Foram esses mesmos visionários que marcharam corajosamente em defesa da quadrilha progressista e revolucionária de Dilma Rousseff. Como se vê, eles sabem o que fazem.
E agora querem Janot forever. Mais um lema matador. Como se sabe, um procurador que era braço direito do procurador-geral assessorou o grupo JBS no acordo providencial que salvou a pele dos irmãos Batista. É uma turma muito bem relacionada, que sabe cultivar as amizades certas. Havia outro procurador contratado pelos maiores contratantes do país para lhes vazar informações da Lava Jato, mas por um infortúnio este foi preso. Deve estar especialmente chateado, sabendo que não estava sozinho nos esforços da vazadoria-geral em prol dos pobres bilionários. A carne é fraca.
Janot é o novo herói desse grupinho de iluminados, e olhando o quadro completo você só pode constatar que a carne é, reiterada e conclusivamente, fraca. Claro que o mote é apoiar o “comandante da Lava Jato”. Temos de admitir que a importância de Rodrigo Janot para as conquistas éticas da Lava Jato só é comparável à de Dilma Rousseff para as conquistas intelectuais da mulher.
Pensando bem, o Brasil deveria se livrar dessa confusa profusão de partidos díspares e desconexos e consolidar o que é bom num partido único – o que tiver as maiores boiadas. Essa consolidação, inclusive, já foi feita pela alma mais honesta dos dois Hemisférios, num trabalho árduo de mais de década com o brilhantismo do BNDES e o suor do seu rosto, caro leitor. Janot, o herói dos artistas, sabe o que é bom para o país – e é por isso que os donos do partido único ganharam a chance de ir para Manhattan refletir sobre os destinos dos brasileiros.
É hora de tirar esse partido único da clandestinidade. Chega de intermediários, basta de amadorismo. Os artistas de passeata têm razão. O Brasil nunca mais vai precisar de reforma da Previdência, reforma trabalhista, orçamento equilibrado, juros, impostos, leis, nada. Basta dar o poder a quem realmente tem dinheiro, e aí não é nem mais o caso de perguntar de onde esse dinheiro veio – porque, como já vimos, ele será distribuído de graça entre aqueles que querem a revolução do bem e facilitam as coisas para os líderes dessa revolução não irem para o xadrez.
Você nem se lembra mais da delação-bomba de João Santana. Talvez se lembre de quem foi João Santana – e isto é bom você não esquecer: foi um dos mentores intelectuais da transformação do Brasil num vasto e pródigo pasto ideológico, onde tudo se resolve mediante um modesto pedágio ao rei. A literatura sobre a formação épica da república do pixuleco está toda na internet, a seu alcance. Releia uma hora destas, se quiser entender o que foi a Revolução de Maio de 2017.
Guilherme Fiuza
Agora segure a emoção para o final feliz: um grupo de artistas resolveu dar apoio político a essa conexão dourada de brasileiros que não desistem nunca (de ficar com o que é seu).
A ideia é muito boa – como todas as que vêm desse grupinho iluminado, que inventou o remake das “Diretas já” (na praia, que ninguém é de ferro) com o cuidado de não convidar para a festa o companheiro Maduro, amigo de fé e irmão camarada dos democratas de Copacabana. Foram esses mesmos visionários que marcharam corajosamente em defesa da quadrilha progressista e revolucionária de Dilma Rousseff. Como se vê, eles sabem o que fazem.
E agora querem Janot forever. Mais um lema matador. Como se sabe, um procurador que era braço direito do procurador-geral assessorou o grupo JBS no acordo providencial que salvou a pele dos irmãos Batista. É uma turma muito bem relacionada, que sabe cultivar as amizades certas. Havia outro procurador contratado pelos maiores contratantes do país para lhes vazar informações da Lava Jato, mas por um infortúnio este foi preso. Deve estar especialmente chateado, sabendo que não estava sozinho nos esforços da vazadoria-geral em prol dos pobres bilionários. A carne é fraca.
Janot é o novo herói desse grupinho de iluminados, e olhando o quadro completo você só pode constatar que a carne é, reiterada e conclusivamente, fraca. Claro que o mote é apoiar o “comandante da Lava Jato”. Temos de admitir que a importância de Rodrigo Janot para as conquistas éticas da Lava Jato só é comparável à de Dilma Rousseff para as conquistas intelectuais da mulher.
Pensando bem, o Brasil deveria se livrar dessa confusa profusão de partidos díspares e desconexos e consolidar o que é bom num partido único – o que tiver as maiores boiadas. Essa consolidação, inclusive, já foi feita pela alma mais honesta dos dois Hemisférios, num trabalho árduo de mais de década com o brilhantismo do BNDES e o suor do seu rosto, caro leitor. Janot, o herói dos artistas, sabe o que é bom para o país – e é por isso que os donos do partido único ganharam a chance de ir para Manhattan refletir sobre os destinos dos brasileiros.
É hora de tirar esse partido único da clandestinidade. Chega de intermediários, basta de amadorismo. Os artistas de passeata têm razão. O Brasil nunca mais vai precisar de reforma da Previdência, reforma trabalhista, orçamento equilibrado, juros, impostos, leis, nada. Basta dar o poder a quem realmente tem dinheiro, e aí não é nem mais o caso de perguntar de onde esse dinheiro veio – porque, como já vimos, ele será distribuído de graça entre aqueles que querem a revolução do bem e facilitam as coisas para os líderes dessa revolução não irem para o xadrez.
Você nem se lembra mais da delação-bomba de João Santana. Talvez se lembre de quem foi João Santana – e isto é bom você não esquecer: foi um dos mentores intelectuais da transformação do Brasil num vasto e pródigo pasto ideológico, onde tudo se resolve mediante um modesto pedágio ao rei. A literatura sobre a formação épica da república do pixuleco está toda na internet, a seu alcance. Releia uma hora destas, se quiser entender o que foi a Revolução de Maio de 2017.
Guilherme Fiuza
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