Da montanha de mentiras que estamos lendo e vendo nos últimos dias, destaque-se a de que “o presidente não disse nada demais” naquela conversa, como se a omissão ou um “ótimo, ótimo” diante da revelação de crimes não fossem gravíssima cumplicidade. A de que Sua Excelência (quase ia teclando ‘ex-Excelência’) não tinha o deputado afastado Rocha Loures como despachante de total confiança é outra.
A montanha que está sendo parida aos olhos estarrecidos da Nação é também a de cumplicidades. O esquemão que irrigava campanhas e patrimônios, envolvendo quase todos os partidos políticos, é uma agudização do capitalismo de laços (ou de compadrio) do Brasil.
A política dos campeões nacionais do BNDES produziu monstrengos que passaram a controlar governos e bancadas parlamentares, como JBS, Odebrecht, Andrade Gutierrez e Fibria. Uma ‘conurbação’ empresa-Estado que passava pela leniência do CADE, do BACEN e da CVM, órgãos de controle que pouco ou nada controlavam sobre determinados ‘players’, motores do ‘progresso’ nacional e de expansão internacional ativadoras do nosso orgulho patriótico.
A montanha que avulta tem o peso de um modelo econômico que corrompe agentes públicos, nos Executivos e Legislativos, para viabilizar políticas que atendam aos interesses privados das grandes corporações. Elas não têm preferência partidária: seu “partido” é aquele que garantir financiamentos, isenções fiscais e leis que facilitem seus negócios.
Tudo pago com montanhosas propinas.
Pelo matadouro da Friboi passaram 28 partidos, ao custo de R$ 600 milhões. Uma montanha de dinheiro sujo! “Apenas R$ 10, 15 milhões não eram propina”, diz o diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud.
A montanha parida tem sempre como guia, para escalá-la, um roedor nativo, adaptado ao seu ecossistema. De vez em quando ele é trocado, quando deixa de ser funcional para os que querem explorá-la.
Mudá-lo, porém, não significa abrir nova trilha que possa desvendar para João e Maria (qualquer do povo) os mistérios da colina mágica do poder do dinheiro. A escolha do novo guia pelos tradicionais frequentadores do devastado bioma, em eleição indireta, é uma garantia de que tudo permanecerá como está.
Pode não dar certo, porém. Ventos uivantes vão corroendo as encostas do cinismo, da hipocrisia e da negociata. Ao pé da montanha, aglomera-se a cidadania. A tarefa despoluidora e cidadã que se impõe é tirar dos seus caminhos aqueles que tudo mercadejam. Expulsar os vendilhões é preciso: diretas sempre!
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