Quem, no meio jornalístico, ainda entra nesse jogo depois de tudo que já passamos ou está sendo otário ou está de má fé.
Eu aposto meus 50 anos de jornalismo militante que todos os políticos brasileiros de hoje estão filmados e gravados em telefonemas, encontros com “traíras” e flagrantes de relação com “operadores” por sua vez filmados entregando ou recebendo malas de dinheiro. A diferença é que só uns poucos estão publicados enquanto a maior parte continua inédita por todas as razões menos porque não existam.
Essa generalização do recurso a financiadores de campanhas “revelada” nas delações não decorre de qualquer fraqueza genética especial do brasileiro, é só a consequência obrigatória do fato de insistirmos em manter um sistema político e eleitoral que começa pelos filtros corruptores do imposto sindical e do fundo partidário que dispensa os representantes de jogar a favor dos representados, e condiciona a progressão na carreira a eleições periódicas por colégios eleitorais de extensão continental, operação que custa uma quantidade de dinheiro de que só as mega empresas com fontes de faturamento alheias à lógica econômica podem dispor.
Quem ainda está em campo na política brasileira, portanto, é porque se elegeu com dinheiro de ésleys e odebrechts. E como essa gente é o que é, todos os candidatos que eles bancam — e as exceções já morreram por falta de verba de campanha — estão gravados e filmados pedindo e recebendo esse dinheiro. Permanecerão inéditos desde que não atrapalhem o “sistema”.
Todo brasileiro sabe disso e os brasileiros que melhor sabem disso, fora os políticos, são os jornalistas. Fazer cara de vestal escandalizada a cada vez que isto de que eles estão carecas de saber que é a regra e não a exceção, vem à tona, quando não é por motivo pior, é fazer o papel de otário que deles esperam os agentes do crime organizado que iniciam esses linchamentos.
A resposta a esse desafio é desconfiar de tudo e de todos sempre. Não “abraçar” denuncia nenhuma, venha de quem vier, venha contra quem vier, mas sim tratar de desconfiar e investiga-las todas para dar a conhecer, acima de qualquer duvida, que sentido ela faz no contexto maior da guerra de quadrilhas pelo poder.
É urgente dar uma freada de arrumação. Nenhum passo a mais nessa beira de abismo até que todas as forças que nos empurraram até ela estejam clarissimamente identificadas e mapeadas nas suas intenções e comprometimentos. Continuar de olhos fechados agindo como eles determinarem que ajam os órgãos de imprensa é nada menos que suicídio.
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