Há algo mais cruel, mais feio e mais custoso que o desemprego de 14,2 milhões de pessoas, 13,7% da força de trabalho brasileira – números do primeiro trimestre. É a subutilização de 26,5 milhões, 24,1% da população ativa. Para compor este contingente é preciso somar a população desempregada, a parcela ocupada em um número insuficiente de horas e aquelas interessadas em trabalhar, mas, apesar disso, incapazes de ingressar no mercado. Este último grupo constitui a força de trabalho potencial, na classificação usada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A população subutilizada correspondia a 22,2% do contingente economicamente ativo no trimestre final do ano passado e a 19,3% nos primeiros três meses de 2016. Esses números são obtidos na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua e geralmente publicados pouco tempo depois dos dados tradicionais do desemprego.
A desocupação cresceu dramaticamente desde o começo da recessão, na passagem de 2014 para 2015. Com a retração dos negócios em todos os setores da economia, as demissões cresceram e com isso aumentou, mês a mês, o número de pessoas em busca de ocupação para manter-se e também para sustentar a família ou ajudá-la a sobreviver.
Sinais de melhora na oferta de vagas têm aparecido recentemente, em alguns setores. Em abril foram criados 59,9 mil postos de trabalho com carteira assinada, diferença entre admissões e demissões. A informação foi divulgada nesta semana pelo Ministério do Trabalho. Mas, apesar da abertura de vagas, a melhora ainda é insuficiente, e assim deve continuar por algum tempo, para reverter a desocupação acumulada nos últimos dois anos.
A evolução do cenário é mostrada principalmente pelos números do desemprego. Mas esse quadro expõe apenas uma parte dos fatos. O drama real é mais amplo, porque inclui a experiência do subemprego (ocupação por tempo insuficiente) e um tipo menos visível de frustração, o das pessoas interessadas em trabalhar, mas, por algum motivo, deixaram de procurar trabalho ou, se o procuraram, foram impossibilitadas de assumir a atividade.
Esse quadro mais completo vem sendo mostrado, há alguns meses, pela Pnad Contínua. A proporção entre a força de trabalho subutilizada e a desocupada tem oscilado, mas a diferença entre o contingente maior e o menor tem sido sempre superior a 75%.
No primeiro trimestre do ano passado, os subutilizados eram 19,3% da força de trabalho, os desocupados, 10,9%. O maior grupo superava o outro por uma diferença de 77,1%. Nos três meses finais de 2016 as taxas foram, respectivamente, 22,2% e 12%, com diferença de 85%. No período de janeiro a março deste ano os desocupados foram 24,1% da força de trabalho e os desempregados, 13,7%, com diferença de 75,9%.
A comparação entre os dois grupos dá uma ideia mais clara das condições efetivas do mercado de trabalho e das possibilidades de ocupação e renda. No trimestre inicial deste ano, por exemplo, quem se limitasse a considerar os 14,2 milhões de desempregados teria uma visão muito incompleta do cenário. Esse quadro já era sombrio, mas o conjunto real era muito pior. Seria preciso, no mínimo, acrescentar 5,3 milhões de pessoas subocupadas por insuficiência de horas de trabalho, atividade semanal inferior a 40 horas. Na maior parte dos casos, essa insuficiência deveria resultar em renda menor e maior instabilidade.
A ampla subutilização da força de trabalho retarda a recuperação do consumo e a reativação da economia. Há, em todo caso, algumas boas notícias. A reanimação de alguns segmentos industriais tem aberto a perspectiva de mais empregos decentes, com melhor combinação de salários e de benefícios e com registro formal. Parte das indústrias tem conseguido melhor desempenho com base na exportação. Para a maior parte dos segmentos, a recuperação deve ser lenta, mesmo com avanço de ajustes e reformas. Se as condições políticas travarem esse avanço, a conta do desemprego ainda será paga por muito tempo.
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