Enquanto isso, durante duas horas, os confrades de Portella abordaram os múltiplos aspectos de sua obra e de sua atividade na ABL — o extraordinário crítico literário, o agudo ensaísta, o profundo pensador do Brasil. Como acadêmico, ele foi uma referência, um ponto de encontro ao qual se comparecia duas vezes por semana. Seu humor sagaz e às vezes mordaz era irresistível. Difícil sair de uma conversa com ele sem dar boas risadas. Em campanhas para preenchimento de vaga, era indispensável ouvi-lo, até para discordar.
Portella quando estava ministro |
Em 1978, o recém-nomeado ministro me concedeu uma longa entrevista para a “Veja”, expondo seu programa, realmente inovador. Depois, perguntou: “E você, o que acha?”. Quando disse que ele iria enfrentar dificuldades, interrompeu, me encarou e garantiu: “De uma coisa você pode estar certo: se tiver que fazer alguma coisa contra minha classe, me demito”. Pensei comigo: “falar agora é fácil, quero ver na hora de sair”.
Não demorou muito, e o ministro cumpriu a promessa. Quando o governo quis que ele reprimisse uma greve de professores, classe que também era sua, ele se demitiu, revelando-se o que é hoje um modelo fora de uso: alguém que está ministro, não que é ministro, ou seja, que não se agarra aos cargos.
Zuenir Ventura
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