A Lava Jato é uma operação judiciária, mas também cirúrgica, que mantém aberto o costado de um Brasil amarrado na mesa. Com a previsão inicial que prometia uma rápida retirada dos tumores, descobriram-se em seguida dezenas, depois centenas e, enfim, milhares de nódulos, cistos e metástases para serem retirados. O paciente, assim, enfrenta duas hipóteses: sucumbir pelos males ou sucumbir pela demora das intervenções. A sucumbência está decretada.
Algo de excepcional precisa ser feito. E tomar medidas que permitam sair desse beco aparentemente sem saída.
A Lava Jato escancarou, e promete escancarar ainda, males e purulências. Os prazos se alongam, provocam profundo mal-estar quando de manhã se abre o jornal e se encontra uma caterva de notícias horrorosas, compêndios do crime e fotos das mesmas surradas figuras declarando-se estranhas aos maiores rombos da história da humanidade.
Algumas e raras figuras apresentam atenuantes; a maioria, nenhuma.
Ninguém sabia de nada, nunca viu algo de estranho, nem se apercebeu de que eram necessárias medidas que impedissem a pilhagem das finanças, da merenda escolar até a usina nuclear.
Na antiga Atenas a suspeita era suficiente, seja por omissão, incompetência ou inconveniência, para determinar o ostracismo, quer dizer, a saída compulsória do território nacional, impedindo qualquer cargo ou profissão. Era suficiente aparecer inconveniente para ser exilado.
O Brasil se apresenta ao mundo como um paciente terminal e intratável, sem credibilidade e sem referências morais remanescentes. Perdeu-se no espaço, e perderam-se os timoneiros.
A roubalheira destinada para acumulação de patrimônios pessoais fantásticos é que se firmou como a causa de tudo. Tecnicamente dita de patrimonialismo, é apenas delinquência insaciável e generalizada. Arrasta-se há décadas nas mãos dos mesmos grupos e vórtices de interesses. Enlouquecidos por dinheiro, levaram a uma situação excepcionalmente grave; não existem precedentes em volume e em intensidade criminosa na história da humanidade. Necessita-se de medidas extremas. Nosso Código Penal é montado para defender a sociedade de assaltantes genéricos, e aqui estamos enfrentando arrombadores do erário nacional.
Faz-se necessário o confisco dessas organizações criminosas; imprescindíveis a devolução dos desvios e a liquidação extrajudicial dessas empresas, conglomerados e corporações. Como fez Scipione, depois de demolir Cartago, tem que passar sal nos escombros para que nunca mais se reproduzam no local.
A tecnologia embarcada nessas empresas se encontra enraizada, como “bioma”, no ambiente das universidades e em seus cursos técnicos. O Brasil não tem nada a perder com a liquidação da Odebrecht.
Nossos códigos atuais não são preparados para uma situação extraordinariamente assombrosa, como aquela que a Lava Jato mostrou.
Precisa-se ampliar o Código Penal, aprimorá-lo, separar trombadinhas de mega-assaltantes da pátria. Os crimes que lesam a economia nacional e se abatem sobre sua população devem ter tratamento em separado com extremo rigor, com detenções sem prazos.
As punições excepcionais devem ser voltadas à eliminação da matriz do crime organizado, que os acordos de leniência, ao contrário, perpetuam e fortalecem.
O banimento é a solução.
Os desempregados no país subiram para 14 milhões com brutal sofrimento que se abateu sobre a população. O presidente Temer em seu primeiro ano de exercício deixou crescer em 3 milhões os desempregados, tomou medidas que preservaram apenas os banqueiros e deixaram a economia mais improdutiva. Descredenciou-se na nomeação de um ministério em grande parte já varrido pela Lava Jato.
O país, para seguir adiante, tem que se livrar das velhas práticas, renovar seus métodos e restaurar uma honestidade e meritocracia que se esfarelaram.
Tem-se que colocar como metas imediatas a simplificação do país mais burocratizado do planeta, os cuidados com a educação como base de melhoria do ser humano, a ampliação de oportunidades e a mitigação do sofrimento das pessoas.
O Brasil, sem corrupção, tem jeito.
Vittorio Medioli
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