O Ministério da Saúde do Brasil é oficialmente um dos órgãos encarregados de assegurar qualidade de vida e assistência à saúde para toda a população. Bons objetivos saíram do papel com ministros e quadros profissionais competentes. A experiência internacional e nacional sugere que são dois os perfis adequados ao cargo. O eminentemente técnico e o político, sensível às especificidades da saúde, que convoca e valoriza os melhores especialistas. O atual ministro tem feição diversa. Além de nenhuma familiaridade com a área, loteou as principais estruturas do ministério com quadros de seu partido político, que, à imagem e semelhança do chefe, pouco entendem de saúde.
A justificativa para a escolha e continuidade do ministério leigo em saúde, mas perito em astúcias genéricas, é o “mal menor”. Entregar a Saúde para o Partido Progressista seria um preço barato para manter uma coalizão governamental sem apoio popular, mas que conta com a maioria dos votos do Congresso Nacional. Mas a administração de uma superdosagem de pragmatismo às instituições públicas de saúde não significa apenas permuta ocasional entre cargos e suporte político. Não saber identificar, equacionar e resolver problemas e não ter a quem recorrer induz ao raciocínio e convicção de que as alternativas e soluções inexistem. Ricardo Barros parece persuadido da inutilidade das ações de saúde pública, quando bate no peito e diz “sou ministro da Saúde, não sou ministro do SUS”, ao declarar que “sistema de saúde para todos é sonho e seus defensores são ideólogos” ou, ainda, decretando que “uma pessoa que tem um plano privado está contribuindo para o financiamento da saúde no Brasil, e como os planos terão menor cobertura, parte do atendimento continuará sendo feito pelo SUS”.
A ignorância sobre as causas dos problemas e das alternativas para reduzi-los, a pouca proximidade com as evidências sobre saúde e sistemas de saúde e o descrédito no SUS, combinados com muitas certezas sobre as melhores estratégias para alavancar uma carreira política, resultaram no uso e abuso do cargo para finalidades particulares. Em março, a Comissão de Ética Pública da Presidência da República advertiu o ministro por ter aproveitado a agenda oficial de trabalho para prometer a liberação de recursos em atos de candidatos a prefeitos em várias cidades do Paraná. Na semana passada, o diretor do Departamento Geral de Hospitais do Rio de Janeiro, indicado pelo ministro, foi afastado em decorrência de acusações de envolvimento com a operação Fatura Exposta.
Entre os afazeres do ministro em campanhas eleitorais e os relacionadas com a contratação de serviços desnecessários ou superfaturados, ainda sobrou tempo para apoiar as demandas de empresas de planos de saúde. Aumento de valores e obrigatoriedade de copagamentos, claramente associados com a piora dos padrões de qualidade dos serviços oferecidos, serão agora autorizados. Em meio à recessão, ao desemprego e às imensas dificuldades do setor, o relato debochado de Eliseu Padilha, a aplicação caricatural do termo notável à seleção de um quadro do PP que manteria a coesão da bancada perdeu literalmente a graça. Ricardo Barros é notável. Já fez por merecer o notório título de pior ministro da Saúde do Brasil de todos os tempos.
Ligia Bahia
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