segunda-feira, 8 de maio de 2017

A imensa Sucupira

A gente gosta de novela. Exageradamente. Tanto que ficamos viciados em histórias que nunca terminam. Narrativas que se desobrigam de fazer sentido. Onde tudo é binário. Mocinhos e bandidos. E pronto. E, quando a audiência claudica, viradas improváveis que invertem o papel revelando as maldades daqueles que antes pareciam bom.

E assim vamos levando a vida. Sem sequer ter a preocupação de aceitar os fatos, olhar as evidencias, ouvir o outro lado, enfim. Por isso tanto drama. E nenhuma resolução. Nada que uma. Tudo que separa.

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Somos realmente capazes de carnavalizar tudo. Precisa ter sempre uma conspiração, uma perseguição. Não conseguimos aceitar a aplicação da lei a todos. Colocamos alguns acima dela. E todo o resto, abaixo.

No país tropical onde Deus por alguma razão desconhecida pode ter abençoado, nada mesmo faz muito sentido. E a gente tem dificuldade de se acostumar quando o sentido existe. E enquanto a gente leva a vida em clima de Fla-Flu, a caravana passa.

Seguimos preocupados com a próxima virada da trama. Assistindo decisões bizarras expostas em desfiles de interpretações que sempre mudam de acordo com a conveniência. No país da novela e do carnaval, critica só vale se for a favor. E a democracia somente aceita se vier com hegemonia. A gente realmente não gosta de instituições. Afinal, são chatas, previsíveis, sem emoção.

Enquanto isso, o país vai se isolando. Perdendo qualquer importância que tenha tido. E, por razoes que escapam a racionalidade, segue fabricando pobres, envelhecendo e protegendo interesses corporativos. Sempre enrolados em alguma bandeira. Com drama. Muito carnaval. E sem razão. Para diversão dos poucos que ainda nos olham. Existe muito entretenimento em terras bananeiras.

A gente realmente gosta de novela. E escolhemos viver em uma. Criamos o próprio enredo, escolhemos a fantasia, vivemos o drama. Matéria prima não faltou.

Transformamos tudo em uma imensa Sucupira.

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