terça-feira, 9 de maio de 2017

Lula e Moro irão se olhar nos olhos?

O primeiro encontro, cara a cara, entre o juiz Sérgio Moro e o ex-presidente Lula  não é um duelo entre os dois. Lula é um cidadão convocado como réu, acusado de corrupção política, e Moro o juiz que pode condená-lo ou absolvê-lo. Nada além disso.

Mas se pretendeu dar ares de disputa futebolística a esse primeiro encontro, convocando ao tribunal de Curitiba os torcedores do político e do juiz sob o risco de confrontos e violência, o que levou Moro a pedir a suas hostes que fiquem em suas casas: “Não venham, não é necessário. Deixem a justiça realizar seu trabalho”.

Estamos na sociedade da pós-verdade em que os sentimentos e as sensações contam mais do que os fatos. Por isso, querendo ou não, a data de amanhã, 10 de maio, terá um eco internacional.


Será lembrada no futuro como algo histórico ocorrido no Brasil. Será o dia em que, pela primeira vez, se encontrarão, cara a cara, dois personagens que já entraram na história: Lula, o presidente mais popular que o país já teve, ídolo das classes mais humildes e hoje sob suspeita de corrupção política, e Sérgio Moro, o juiz que trouxe a público a Lava Jato, o maior escândalo de corrupção conhecido até hoje. O juiz que se espelha em Giovanni Falcone, o flagelador da máfia siciliana, que a colocou no banco dos réus e por quem acabou assassinado. Lula e Moro irão se olhar nos olhos?

Já ocorreram outros 10 de maio famosos no mundo que podem ser metáfora do momento brasileiro. Figuras de prestígio mundial chegaram ao poder justamente nesse dia, como Nelson Mandela, na África do Sul e François Mitterrand, na França. E em um 10 de maio de 1508, Michelangelo começou a pintar a bela e polêmica Capela Sistina, talvez o maior monumento artístico da história da humanidade.

Para esse 10 de maio brasileiro há quem tenha ido consultar os astrólogos. Esse dia está sob o signo zodíaco de touro, que representa o respeito às leis, à estabilidade e à força.

Lula é de escorpião, signo intenso, sensual, com energia emocional, mas possessivo. Moro é de leão, o signo dominante do zodíaco. É o signo dos que se sentem vencedores e também ambiciosos.

Os dois não podem ser mais diferentes: Lula é expansivo, Moro, contido. O ex-presidente é mediterrâneo e tropical, e o juiz, mais nórdico. Lula é fogo, Moro, gelo.

Lula brigará para ser absolvido das acusações. Quer demonstrar que é inocente e um perseguido político e seu desejo é voltar a presidir o país pela terceira vez.

Moro e os seus esperam ter provas para poder demonstrar a tese de que Lula foi “il capo” da trama do grande escândalo de corrupção da Petrobras com ramificações em vários continentes. Tudo isso em meio a um suspense entre a tragédia shakespeariana e a comédia bufa napolitana.

O triste é que a Lava Jato não é uma disputa de futebol e uma partida de pôquer onde se pode blefar, mas uma dramática realidade que o Brasil vive entre incrédulo e envergonhado. Uma realidade que anuncia a crise não só da esquerda social representada por Lula, mas de toda uma classe política.

A única esperança é que o país e suas instituições saiam purificados e renovados de um teste cujas consequências são sofridas não só pelos políticos, mas por toda a sociedade. Uma sociedade que só quer trabalhar e ser feliz, que merece algo melhor do que essa incerteza institucional e esse mar de corrupção.

Quem sabe não está chegando a hora da verdade, essa que liberta, enriquece e enobrece a um país.

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