O país tem alergia ao capitalismo. Desde que Caminha elogiou a descoberta do Brasil para pedir emprego para parente na coroa portuguesa. Desde a fundação, o importante sempre foi cavar uma boquinha. Muitas vezes a qualquer custo. E sempre a qualquer preço. Desde que pago pelos outros, claro.
Depois de mais de 500 anos, é natural que a gente nem mais perceba. Que aceite como normal. E pense que até seja bom ou faça sentido. Sem referências para comparar fica difícil mudar. E no final das contas, as coisas vão ficando como estão.
Pensando bem, não vale mesmo a pena mesmo fazer outra coisa. Achar uma boquinha é sempre o melhor negócio. Procurar emprego na iniciativa privada não é, realmente, o melhor negócio. Não tem estabilidade.
Aposentadoria é duvidosa ou, na melhor das hipóteses, pequena. E benéficos não há. A melhor aposta no futuro, é mesmo um emprego público. Ganha mais, e não tem risco. Quem não quer?
Empreender também não é bom negócio. O Brasil tem economia sem inovação. Falta acesso a capital. E os impostos são altos. E complexos. Por isso faltam empresários. Quer dizer, empresários no verdadeiro sentido da palavra. Aquele que vai correr risco, produzir e, se tudo der certo, ter retorno.
Se existe algo claro nos últimos anos, é que os poucos empresários de sucesso não o devem em sua maioria a sua competência empresarial. No país da boquinha, o sucesso empresarial se dá na proporção direta da proximidade com o poder público. O capitalismo tropical se especializa na compra de facilidades e vantagens sobre a concorrência.
Não interessam mais a governança, boas práticas, produtividade, competência, enfim. A gente acha natural a acumulação de receita sem produção. Aceita a falta de inovação. E uma economia sem dinamismo, onde o grande desfio é a aproximação do poder e as oportunidades geradas por essa proximidade.
Faz sentido buscar uma boquinha. Muito sentido. Mas para existir a boquinha, alguém tem que pagar por ela. E não tem gente suficiente para pagar por tudo isso. Vai faltar boquinha.
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