No caso do boi de piranha, o dito nasceu de um costume dos antigos vaqueiros. Temendo haver piranhas no rio, o que seria grande prejuízo e um desastre para a travessia da tropa, usavam apenas um boi como cobaia e esperavam que o animal servisse de aviso sobre a presença ou ausência dos vorazes peixes carnívoros. Se a água ficasse avermelhada, escolhiam ponto diferente para que a boiada chegasse à outra margem, enquanto a rês sacrificada era devorada, restando-lhe em pouco tempo apenas os ossos.
Nem sempre é escolha do autor omitir o nome dos bois. Ao utilizar-se deste expediente, às vezes ele diz mais sobre si mesmo do que sobre os denunciados.
E, por fim um vício de origem – a inexistente participação popular na proclamação da República – alastrou-se de tal modo na vida brasileira que os eleitores, identificados até em excesso hoje, por força das conquistas tecnológicas, continuam sem dar nome aos bois ladrões que não param de eleger e reeleger, ratificando este trecho de Machado de Assis em seu romance Esaú e Jacó: “As aparências e nomes que damos a pessoas e coisas, infelizmente, sugerem a política como uma confeitaria na qual a pretensão de agradar supera a coragem de transformar”.
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