No entanto, a América Latina carece de estratégias para conduzir seu desenvolvimento econômico em uma direção que lhe permita reparar sua maior falha. Refiro-me à pobreza e à desigualdade social que levaram o subcontinente a realidades como a do México, um país onde há cerca de 100.000 milionários e mais de 55 milhões de pobres – quase a metade de sua população.
O caso Odebrecht marca um antes e um depois na América Latina. Nunca antes tinham sido misturados no mesmo caldeirão todos os defeitos estruturais dos últimos 500 anos com a exportação da corrupção como um elemento essencial da conquista. Não apenas está envolvida a classe política sem exceção de todos os países latino-americanos, como também, além de tudo, trata-se de uma demonstração incrível da pouca capacidade dessa mesma classe de não perceber que, dado o grau de impunidade e de escândalo com que viveu, roubou e traiu seus povos, não há como sobreviver e não pode haver continuidade nem para essa classe, nem para os sistemas que ela representa.
Agora, após conseguir uma certa independência da influência de Washington e depois de espantar as forças obscuras do império norte-americano para que parem de alterar sua história, a região caminha em direção ao precipício da perdição, em vez de escalar a montanha do progresso. Por culpa do caso Odebrecht entregamos todos os planos de nossa decadência, da vergonha e da justificativa de nossa existência como países subdesenvolvidos aos norte-americanos, que são precisamente aqueles que podem ir manipulando Estado por Estado, presidente por presidente e classe política por classe política para a situação que mais lhes convenham. Essa realidade vem apenas realçar não só a incapacidade e o suicídio dos políticos latino-americanos, como também o resultado dos incessantes investimentos que fizeram para evitar que o problema da corrupção se tornasse um câncer terminal das sociedades.
Onde estavam os promotores anticorrupção? Onde estavam os sistemas de fiscalização dos gastos públicos? Como é possível que todos os controles tenham falhado? Agora ninguém sabe nada, ninguém viu e ninguém quer saber por onde começarão a ser aparados aqueles elementos que poderiam buscar o bem-estar geral e garantir a estabilidade que evite a convulsão social.
Todos os países, do México ao Brasil, entoam o mea culpa. E o fato de o Supremo Tribunal Federal brasileiro ter decidido terminar com o escândalo Odebrecht, investigando e processando quem for necessário, é uma consequência histórica do caso Tangentopolis na Itália, resolvido com a operação Mani Pulite (“Mãos Limpas”), que acabou com a classe política italiana da época, deixando como herança o Governo de Silvio Berlusconi durante quase 10 anos.
Tudo isso é agora um grande alerta que já não é necessário escutarmos, porque temo que, tal como as coisas estão, surgirão Humala após Humala, Santos após Santos e todos aqueles envolvidos nesse debulhar do rosário cheio de baixezas e traições à pátria perpetradas por aqueles que têm a obrigação de defendê-la mais e melhor.
Mas, além disso, precisamos ser capazes de entender que criamos e estivemos vivendo em um sistema no qual todo o investimento, todo o palavrório e todas as leis promulgadas para prevenir a corrupção fracassaram. A pergunta é: fracassaram porque fomos incapazes de impor o cumprimento dessas leis ou porque, desde o momento em que foram concebidas, a intenção era de que nunca fossem cumpridas?
É verdade que não podemos ter sistemas políticos sem corrupção? É verdade que podemos seguir explicando a nossos povos que não importa que eles morram de fome, enquanto seus dirigentes roubam o pouco que resta? Essa é, na realidade, a bomba termonuclear de grandes dimensões morais, políticas e sociais que pusemos nas mãos dos Estados Unidos contra a América Latina.
Obrigado, Odebrecht!
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