quinta-feira, 30 de março de 2017

'Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil'

No artigo “Doenças da carne, doenças da alma”, neste último domingo, no “O Globo”, o jornalista Fernando Gabeira disse que, quando menino, ouvia muito a frase que utilizei como título destas linhas: “Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”.

Mais velho do que Gabeira, que, como Ricardo Noblat, meus contemporâneos no velho e saudoso “Jornal do Brasil”, já deve ter completado 50 anos de jornalismo, eu já a ouço há mais tempo ainda. Nós três envelhecemos, eu mais do que eles, e nenhum dos dois – o Brasil ou a saúva – acabou. Interessante é que, com o tempo, a frase perdeu a força que tinha antes. Hoje, a saúva pode ser enfrentada com êxito e, com certeza, se administrada com competência técnica, já não fará mais nenhum mal às terras e lavouras brasileiras. E seu sentido metafórico (ela passou a ser usada contra outros inimigos, como os políticos) também foi desaparecendo. Por cansaço, provavelmente. O mesmo cansaço que hoje vai tomando conta dos melhores de nossa imprensa tanto televisada quanto escrita. Afinal, ninguém é de ferro.

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Você já deve ter ouvido por aí, leitor, que a frase seria do escritor Monteiro Lobato. Na verdade, ela foi cunhada pelo naturalista e botânico francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), que ficou espantado com as formigas que destruíam até árvores frondosas, além de arbustos, pastos e gramas. O poeta, escritor e crítico literário Mário de Andrade a botou na boca de seu personagem Macunaíma: “Pouca saúde e muita saúva os males do Brasil são”. A frase também inspirou o hino da escola de samba São Clemente no Carnaval carioca de 1986.

Eis o final do artigo de Gabeira: “Já escondidos atrás do foro privilegiado, os políticos querem se esconder de novo atrás de listas fechadas, anular provas de delação da Odebrecht, enfim, voltar aos velhos tempos. Não vão acabar com o Brasil. As saúvas não acabaram”.

Concordo, plenamente, com o que disse Gabeira, mas tenho enfatizado sempre que a Lava Jato só terá algum sentido se ela for de fato transformadora não apenas da classe política (escolhida e eleita por nós), mas da sociedade brasileira como um todo. Esta, aliás, deverá ser a primeira e notável transformação. Não adianta tergiversar: somos todos, leitor, responsáveis por nossas escolhas. Somos – aliás, sempre fomos – o país do jeitinho e do pistolão. Às vezes, me vem à cabeça esta ideia maluca: a decepção e a desesperança (e a presença diminuta de pessoas na rua no último domingo) talvez expressem o cansaço crescente que toma conta de todos, sem exceção, quando chegamos à triste conclusão de que o mal está na raiz. É nela que reside a dificuldade para se fazer, por exemplo, a maior de todas as reformas – a política.

Mas o Brasil precisa, também, de outras reformas, como afirmou o economista e ex-presidente do Banco Central, no governo FHC, Gustavo Franco. Precisa – concluiu ele – de “reforma da Previdência. E também da trabalhista, tributária, orçamentária, urbana, rural (agrária), sindical e do ensino médio. Precisa de reforma do ensino superior e inferior, de reforma protestante, do espírito do capitalismo e de reforma ortográfica. Reforma na varanda, no banheiro e na cozinha”.

Só que quem quer voltar a presidir o país é o mesmo Lula, que, dizem, conta com 30% dos votos. Sua campanha para 2018 já começou. Seus assessores, com Mantega à frente, são os mesmos que nos entregaram este país roubado e quebrado. E, muito pior, traído!
Lula, Dilma, Temer...

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