quinta-feira, 30 de março de 2017

Futuro monumento

Há dias, Ancelmo Gois, no "Globo", propôs que o Posto da Torre —o posto de gasolina de Brasília que, há três anos, deu origem e nome à Operação Lava Jato— fosse tombado pelo patrimônio histórico. A ideia seria transformá-lo em monumento nacional, em memória da luta para limpar o país dos executivos da Petrobras, empreiteiros, lavadores de dinheiro, governantes e políticos que, só neste século, roubaram pelo menos R$ 20 bilhões e levaram o país a uma crise como nunca antes.

Não sei se a proposta de Ancelmo terá futuro, mas sou a favor dela. Se o posto se tornar monumento, fará jus a verbas para funcionamento e manutenção. Para isso, terá de deixar de vender gasolina, calibrar pneus ou servir hambúrgueres, mas estas nunca foram suas atividades preferenciais —a própria lavagem de carros, apesar do nome, jamais foi praticada ali. Em compensação, guias conduzirão os visitantes às salas onde se urdiram os primeiros golpes contra a economia e as instituições.


Como ponto subitamente promovido a atração turística, o posto não poderia ter melhor localização. Fica no começo da Asa Sul, perto de um setor hoteleiro e a apenas três quilômetros do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF –redutos de vários protagonistas e coadjuvantes do esquema.

Um dia, no futuro, os guias contarão aos incrédulos visitantes que, apesar de ter sido criada para fins até patrióticos –desmascarar as propinas distribuídas aos políticos para que estes fizessem passar emendas que permitiam a certas empresas economizar ou lucrar bilhões, sangrando as necessidades da nação–, a Lava Jato foi combatida pelo presidente e seus ministros, cinco ex-presidentes, os partidos em peso, quase todo o Congresso Nacional e até por alguns togados.
A seu favor, só as pessoas de bem.

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