Em certo sentido, a reforma da Previdência está para o presidente Michel Temer assim como Waterloo esteve para Wellington, Verdun para os franceses e Stalingrado para os aliados.
Se vencer a batalha, consolidará os sinais positivos da recuperação da economia e estabelecerá a ponte para um Brasil reorganizado, em condições de alcançar o crescimento sustentado.
O inverso também é verdadeiro. Se for derrotado, a incipiente recuperação econômica estará comprometida, com as expectativas dos investidores voltando à estaca zero. Sua base de sustentação iria para o espaço, com cada um cuidando de si, e seu governo entraria em estado terminal. Seus flancos estariam absolutamente desguarnecidos para enfrentar a artilharia pesada da Lava-Jato.
Quando assumiu o governo, Temer estabeleceu sua estratégia para travar as batalhas das reformas tendo em mente que o Teatro de Operações seria o Congresso Nacional. Isso explica, em grande parte, sua opção por estabelecer um contrato de risco com partidos e políticos tradicionais, mesmo sabendo que, com a Lava-Jato, estaria sujeito a tempestades e trovoadas.
Não fez o governo de notáveis, ficou de costas para o sentimento da sociedade e perdeu outra batalha, a das ruas, com sua popularidade em plano inclinado. Mas montou uma base de sustentação mastodôntica no Parlamento e escolheu um estado-maior profundamente conhecedor do Teatro de Operações e de como as tropas se movimentam dentro dele.
A estratégia parecia correta, sobretudo porque a outra frente - a economia - fora blindada com a escalação de uma equipe preparada e um comandante altamente competente. Mesmo o fato de o PIB de 2016, divulgado nesta terça-feira, ter decrescido 3,6% tende a ser interpretado como um olhar pelo retrovisor, porque a equipe econômica começou a entregar a mercadoria encomendada.
Mas tudo começou a se complicar com o strike da Lava-jato. Um a um de seus generais da política foram caindo ou seriamente feridos. O próprio presidente também foi atingido, embora não fatalmente.
Com seu estado-maior em liquefação, Temer teve de se comportar como comandantes em chefe que, diante do perigo, vão para a linha de frente da batalha.
E ele foi. É do ramo, conhece bem o terreno e 80% do Congresso faz parte de sua base de sustentação. Se não conta mais com um estado-maior do mesmo quilate de antes, tem ao seu lado uma força-tarefa que não é composta por amadores.
As dificuldades se agudizam quando se leva em conta o fator tempo. Se não aprovar a reforma da Previdência no primeiro semestre, as condições serão ainda mais adversas no segundo, véspera do ano eleitoral, quando a sobrevivência fala mais alto e os parlamentares só têm olhos para a reeleição.
A dissintonia entre o tempo da crise política e o tempo da economia também joga contra. A crise se desenrola de forma célere, enquanto a economia real, aquela capaz de mudar o humor dos brasileiros, só dará sinais de reanimação nos meses finais do ano.
Em um Congresso refratário a medidas impopulares, não dá muito para confiar no ardor patriótico dos parlamentares. É previsível que o presidente terá de fazer novas concessões à sua base, para vencer a guerra.
Só não pode ceder no núcleo central da reforma – idade mínima de 65 anos e regras de transição para quem esta perto de se aposentar, segundo sua própria avaliação.
Se conseguir aprovar apenas uma reforma pífia, Temer sairá de sua batalha mãe não como Wellington saiu de Waterloo, mas como Pirro.
Com a guerra em curso, ele redefiniu sua estratégia: dobrou as apostas na economia como caminho para superar a crise política. Se conseguir convencer a tropa de que essa é a rota da salvação, pode até ser favorecido pelos deuses da guerra.
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