quarta-feira, 8 de março de 2017

Recessão cobra sua fatura na cidade símbolo do petróleo no Nordeste

Todos os finais de tarde, o município de Carmópolis, a 50 quilômetros de Aracaju, se tinge de um tom alaranjado, que nada tem a ver com o pôr do sol. A pequena cidade de Sergipe fica com as ruazinhas movimentadas no horário da saída das centenas de funcionários da Petrobras vestidos com o tradicional uniforme macacão laranja da estatal. Cerca de 15.000 habitantes vivem na cidade conhecida por seus poços de exploração de petróleo. Centenas de cavalos – como são chamadas as bombas que sugam o óleo do fundo da terra – se misturam à bucólica paisagem de uma cidade pequena do interior de Sergipe.
Carmópolis é um símbolo da história do petróleo no Nordeste e no Brasil. Foi o segundo poço em terra descoberto, em 1963, e ainda hoje é um campo de enorme produção, sendo responsável por quase 44% do total produzido em Sergipe. “Emprego aqui significa Petrobras”, disse Moisés dos Santos, 55, dono de uma pequena lanchonete na cidade. Agora, no entanto, a estatal começar a virar fantasma de desemprego. Dos três filhos de Santos, um ainda trabalha para a estatal e outro acaba de ser demitido dela. “As pessoas estão indo embora da cidade porque não acham outro emprego. Só fica aqui quem é aposentado, porque não dá nem para plantar alguma coisa já que todo lugar aqui é um poço de petróleo”.

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O cenário de Carmópolis é a parte visível da recessão brasileira, confirmada nesta terça pela divulgação da queda do PIB de 3,6% no ano passado, a segunda queda anual seguida. O consumo que cai a oito trimestres, segundo os dados oficiais, se explica pelo desemprego crescente. E nesse tópico, o Nordeste lidera a redução de postos de trabalho. No final do ano passado, os estados nordestinos tinham uma taxa de 14,4% de desocupação, a maior do país, contra 10,5% no final do ano anterior. A taxa nacional era de 12% em 2016.

A crise específica da Petrobras é a outra face cruel que vai mudando a vida dos moradores de Carmópolis. A queda no preço do petróleo, a desvalorização do real, a profunda investigação sobre a corrupção na petroleira e a postergação de projetos estratégicos golpearam a Petrobras, levando a um prejuízo recorde de 34,8 bilhões de reais em 2015. A crise e os números fizeram com que a companhia anunciasse um plano de desinvestimento no Brasil e no exterior, o que significa, por tabela, enxugar quadro de funcionários. Constitui-se de um pacote de medidas a serem tomadas no período de 2017 a 2020 para reduzir o endividamento da estatal. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Montagem e Manutenção Industrial do estado de Sergipe, nos últimos dois anos cerca de quatro mil demissões ocorreram no estado.

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