quarta-feira, 1 de março de 2017

A folia da Lava Jato vai começar

Para muitos políticos e autoridades públicas, não haverá mais carnaval como este que, hoje, dará seus últimos suspiros.

Embora tensos, angustiados e à espera do pior, os que desejaram puderam brincar desde que em ambientes previamente desinfetados de gente hostil.

Nos últimos três anos de Lava Jato, somente os privados de liberdade sabem quanto é duro viver sob o anátema da sociedade.

É assim que vivem os citados em delação, os suspeitos de ter prevaricado e aqueles que temem ser acordados por agentes da Polícia Federal.


Por mais que aleguem ser inocentes, poucos entre eles parecem ser. A maioria agarra-se à esperança tênue de que faltem provas para condená-los.

Discretamente, para escapar de serem presos em flagrante, muitos ainda se ocupam em destruir a tempo provas e indícios de crimes.

O telefone celular já não lhes serve para nada. Quem se arriscaria a usá-lo com a sem cerimônia de outrora?

E computador também não. Nem mesmo o sacrossanto espaço do lar está mais a salvo de escutas capazes de incriminá-los.

A Quaresma que para os religiosos significa o período de recolhimento e de meditação à espera da Páscoa, para eles será um duro período de agonia.

Quem dentre eles será chamado a se explicar publicamente depois de levantado o sigilo sobre as delações da Odebrecht?

Quem dentre eles em será denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal?

Quem dentre deles, sem desfrutar do privilégio do foro especial, ficará aos cuidados do juiz Sérgio Moro em Curitiba?

A agonia sucede ao calvário. E o calvário arrasta-se desde o momento em que a Lava Jato investigava apenas um posto de gasolina em Brasília.

De lá para cá, o príncipe dos empreiteiros foi preso e condenado. Pela primeira vez na história, um ex-ministro da Fazenda mofa na cadeia.

Um ex-governador do segundo Estado mais importante amarga a certeza de que permanecerá por muito tempo atrás das grades.

Mais um presidente da República caiu. Dois ex-presidentes estão na marca do pênalti. O atual corre o risco de não concluir o mandato que herdou.

Um ex-presidente da Câmara dos Deputados foi cassado e está preso. O que o sucedeu foi alvo de delação.

Assim como foi também o presidente do Senado recém-eleito. Seu antecessor responde a mais de 11 inquéritos.

A folia de Momo dá ensejo a que a alegria afogue a mágoa e os desencantos da vida.

A folia da Lava Jato, preste a alcançar seu ápice nos próximos meses, poderá servir à renovação dos métodos de se fazer política entre nós.

Que assim seja.

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