terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Quem matou Odete Roitman?

Somos milhares de técnicos de futebol, ministros da economia, conselheiros políticos, assessores de imprensa, juízes e investigadores. Todos temos solução pra salvar o time e a política, ajeitar a economia, dar a respostas mais adequadas em entrevistas, condenar ou absolver acusados – da Lavajato, particularmente -, resolver casos de polícia.

A crise dos presídios brasileiros calou palpiteiros. Só os ferozes soltos ousam oferecer receita: mata todos! Sugestão que substitui o velho “prende e arrebenta” que, no caso, não cabe mais. Os promotores do terror deste janeiro já estão devidamente (?) presos.

A parte esses, ninguém oferece solução ao “pavoroso” problema. Nem governos, nem o Estado. O que só aumenta a perplexidade.

Desde o início do ano, houve treze rebeliões em seis estados Até agora contados 134 pessoas assassinadas. Os massacres aconteceram no Amazonas, com 64 mortos em três unidades, em Roraima, com 33 mortes, e no Rio Grande do Norte, onde, dos 34 assassinados, 33 haviam sido decapitados.


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Como se fosse a coisa mais normal do mundo, o noticiário relata que pedaços de corpos e vísceras vão sendo recolhidos a cada trégua na penitenciária de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal, a capital do Rio Grande do Norte. Não foi diferente nos outros estados. Não será diferente em qualquer outra das prisões/masmorras brasileiras.

Como se fosse a coisa mais normal do mundo, ao vivo, assistimos as duas facções de Alcaçuz – PCC e Sindicato RN – em confronto armado no pátio do presídio. A separá-los um espaço no chão. Policiais só nas guaritas.

Para quem não aprendeu ainda, PCC significa Primeiro Comando da Capital, paulista. Sindicato RN, mais óbvio, é a facção criminosa que domina o poder nas prisões e a venda de drogas na região.

Há também o Comando Vermelho, CV, poderoso no Rio de Janeiro, a Família do Norte, FDN, que ganhou fama nacional a partir das rebeliões no Amazonas, Roraima, Acre e Pará. Existe ainda o Bonde dos 40, no Maranhão, além de outras que não ganharam fama nacional.

Todas mapeadas e conhecidas de governos e do Estado. Todas com comandos dentro dos presídios, e grandes negócios que movimentam muito dinheiro e saem das fronteiras. Têm porta-voz e negociador, código honra, de regras de conduta e batismo obrigatório para o acesso. Entrou não sai mais. Se tentar sair, morre. Simples assim.

Tudo noticiado. Tudo sabido. Tudo assimilado também. Existem, fazem isso e aquilo. Enquanto não saem dos subterrâneos onde habitam, são só números em relatórios oficiais e oficiosos.

Solução? Apagar incêndios. De forma que seria risível se não fosse absurda. Em Alcaçuz, um muro de containers para manter os PCC e Sindico RN cada um do seu lado. Voltarão para os subterrâneos, pra baixo do tapete cada vez mais esfarrapado.

Todos sabemos que o “negócio” das drogas envolve bilhões, sem cerimônia, movimenta venda de armas, patrocina guerras, não respeita fronteiras e, num combate sem vitórias, consome outros bilhões na dita repressão. Também aumenta e espalha a violência em progressão geométrica, etc e etc.

Como se fosse a coisa mais normal do mundo, descrentes e desanimados, seguimos espectadores perplexos com a ineficiência dos governos, a incapacidade do Estado, a falência da organização social vigente. E, sem nem ousar palpites, rezamos aos anjos da guarda - única santa possibilidade de proteção.

O resto é resto. Bala perdida. Segue seu curso, sob a costumeira investigação rigorosa e sigilosa.

Sem palpites.

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