sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Expresso Carandiru-Manaus-Brasília

O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo. Aqui morrem a cada ano mais brasileiros do que o total de americanos mortos nos 20 anos da Guerra do Vietnam.

Quase metade dos congressistas (deputados e senadores) respondem a inquéritos ou ações penais.

Um presidiário, em Caratinga, Minas Gerais, reeleito em outubro de 2016, tomou posse como vereador, trajando o uniforme prisional e algemado. Vai continuar frequentando a Câmara Municipal, recebendo salário e dormindo no presídio. É legal, mas é moral?

O presidente do Senado, acusado em 11 processos, virou réu em ação na qual é acusado de peculato e recusou receber uma intimação do Supremo Tribunal Federal.

Governadores e ex-governadores estão sendo investigados. Pelo menos um já está preso. Diversos dirigentes partidários foram ou estão presos por corrupção.

São diversos processos contra juízes; há condenados.

Nos quatro primeiros dias do ano, estão internados, em 15 hospitais diferentes do Rio de Janeiro, 38 presos, que são custodiados por 41 policiais militares trabalhando em turnos de 12 horas, sem descanso para comer e com salários frequentemente atrasados. Nenhum desses hospitais tem uma enfermaria exclusiva para isolar os detidos dos demais pacientes. Os policiais estão lá para impedir que esses indivíduos sejam resgatados por parceiros ou assassinados por desafetos. Isso já ocorreu.


Esse ano, já são seis policiais assassinados, oito fuzis apreendidos e nenhuma rua fechada com protestos contra esses covardes assassinatos.

No Presídio do Carandiru, São Paulo, em outubro de 1992, a Polícia Militar foi chamada a intervir para conter uma rebelião provocada por centenas de presos armados, num ambiente de confinamento e cujo desfecho era imprevisível. O resultado foi a morte de 111 detentos e 74 policiais processados por crime de homicídio. É possível que esse fato tenha contribuído para o surgimento do Primeiro Comando da Capital (PCC), em 1993, como uma organização criminosa (ORCRIM) disposta a desafiar o Estado. Gradualmente, assume uma dimensão nacional e se expande ao Paraguai, Colômbia e Bolívia, países tradicionais fornecedores de cocaína, maconha e fuzis de guerra.

Agora ocorreu o massacre de Manaus, com 60 mortos, metade decapitada ou mutilada. Dessa vez, não há policiais para serem acusados, pois a opção do governo do Amazonas foi terceirizar a administração dos presídios. Um negócio milionário e estranho.

Esse massacre é um sinal de que a promissora rota norte do tráfico, tipo exportação, está mudando de dono. Após esse “choque de arrumação”, é possível que se criem novas alianças, basta o Estado brasileiro continuar não se organizando de forma patriótica.

Isso tudo é descrito no livro “ZeroZeroZero”, de Roberto Saviano, que avalia que o dinheiro das drogas e a lavagem de dinheiro, de qualquer origem, indicam alianças entre organizações - de qualquer natureza -, numa interligação complexa e generalizada.

Já partiu da estação o expresso Zero-Carandiru-Zero-Manaus-Zero-Brasília.

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