domingo, 29 de janeiro de 2017

Deploráveis sinais de barbárie ao sul do Equador

Os massacres nos presídios vêm expondo a barbárie de gangues que usam armas rudimentares para o assassinato, seguido de degola das vítimas ou mesmo esquartejamento, e exibem seus atos em redes sociais. A grande mídia não apresenta as imagens, mas cópias são disputadas no comércio ambulante de grandes cidades porque há segmentos sociais que curtem esse tipo de expressão da maldade humana.

Outros crimes bárbaros ocorrem diariamente no Brasil, como estupro de bebês, execução sumária de delinquentes, perseguição implacável a famílias de adversários, latrocínio de idosos na área rural e esfaqueamento de parentes ou amigos por motivos fúteis. O elenco de atrocidades é inesgotável em todas as classes sociais, mas identificam-se, na maioria dos casos, o desespero pela miséria, a ignorância, a solidão, o abandono de vulneráveis e a ausência de instituições para assegurar integridade física, conforto emocional e bem-estar social de cada cidadão.
"Somos uma nação e uma sociedade violenta, não, violentíssima para ser mais exato. O estereótipo de somos historicamente um povo nascido e criados em um berço de esplendor na qual a índole brasileira se formou pela miscigenação adorável e amável na qual as raças aqui se encontraram é uma falácia dolorosa desmentida todos os dias no cotidiano pelos atos de barbárie que assolam a nossa sociedade.":

Esse quadro mostra que o país não atingiu a modernidade, pois outros indicadores são ainda mais taxativos quanto ao atraso, escancarando as deploráveis condições em que vivemos: infraestrutura obsoleta, problemas sanitários, dificuldades para mobilidade espacial, ineficiente sistema educacional, acomodação em favelas, desemprego e subemprego de diferentes faixas etárias, crianças abandonadas, idosos desamparados, alta taxa de mortalidade materna, precária assistência médica e insignificante segmento com instrução adequada para o mundo pós-industrial.

Há inexplicável aceitação dos brasileiros, que não se mobilizam para viver com o conforto obtido em diferentes países, mesmo na América do Sul. Essa atitude decorre, talvez, do individualismo que molda nosso caráter: desde que os problemas pessoais estejam resolvidos, não nos preocupamos com o coletivo. Isso se alia ao sentimento de deixar tudo nas mãos de Deus, que controla os destinos de cada um. Evidencia ainda outro viés que perpassa nossa conduta e é, infelizmente, mais difícil de superar, porque implica interesses mais amplos e profundos.

Trata-se de um silencioso pacto entre eleitores e políticos para troca de favores pessoais, estabelecendo larga distância dos interesses nacionais e alimentando as tramas da corrupção. Ele decorre do fatiamento do orçamento público para que os parlamentares atendam os interesses paroquiais e, consequentemente, seus eleitores de cabresto sem vinculação com um grande projeto nacional. Ele permitiria alcançar a indispensável racionalidade administrativa para a formulação de um plano de transformação na infraestrutura e nas relações sociais que encaminhasse o desenvolvimento socioeconômico em todo o país e, consequentemente, a modernização em benefício de todos os brasileiros.

Mesmo assim, ninguém propõe uma mudança radical na práxis política, que é a face mais deplorável do mandonismo, do clientelismo e da dependência perpétua dos eleitores em relação aos caciques regionais.

Gilda de Castro

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