O ano começa dando um sacode em quem vê o Brasil pelas telinhas. Quem se horrorizou com a barbárie do Estado Islâmico agora assiste às mesmas barbaridades neste antro de ordem e progresso. E se envergonha, se revolta?
Menos, bem menos. O brasileiro não é melhor nem pior, apenas gente igual a gente dos outros países. Este orgulho nacionalista serve apenas para discurso político diante da boçalidade.
Cabeças decepadas rolam pelas páginas da história do Brasil e mais rolariam se fossem computadas as execuções urbanas, que ficaram apenas em jornais populares. No Rio, nos anos 1990, a onda por bom tempo foi bandido decepar inimigo. Mas a grande mídia não quis embrulhar o estômago daqueles que sempre viraram as costas para a realidade.
A brutalidade deste início de ano nas penitenciárias deveria provocar menos alvoroço e muito mais questionamento sobre a falência estrutural do Estado e a incompetência administrativa dos tais governantes de ontem e de hoje, que nunca souberam (ou desprezaram) tratar o problema. A começar pela construção e a manutenção do que chamam penitenciária. Gastam fortunas em construir e uma dinheirama para manter cada preso em meio à favelização arquitetônica - cenário digno de Canudos. Em meio àquela miserabilidade de condições, não há ressocialização, mas revolta. E as facções, com o dinheiro público, se apropriam facilmente das instalações. Com casa, comida e roupa lavada, às custas dos outros, fica mais fácil instalar Estado Maior para o comando da criminalidade. Ainda mais contando com a compra político-empresarial.
O governo finge que põe na cadeia pela segurança nacional; e os bandidos que cumprem pena para felicidade geral.
Luiz Gadelha
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