quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Quando as cabeças rolaram na tevê...

As cabeças degoladas agora frequentam o horário nobre da casa brasileira para horror e arrepio de quem não conhece o Brasil. Acredita piamente que seu país é aquele do hino cantado para as equipes brasileiras em estádios, se recusando a ver o Brasil do outro lado do noticiário e das manifestações de nacionalismo piegas .

O ano começa dando um sacode em quem vê o Brasil pelas telinhas. Quem se horrorizou com a barbárie do Estado Islâmico agora assiste às mesmas barbaridades neste antro de ordem e progresso. E se envergonha, se revolta?

Menos, bem menos. O brasileiro não é melhor nem pior, apenas gente igual a gente dos outros países. Este orgulho nacionalista serve apenas para discurso político diante da boçalidade. 


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A barbaridade brasileira vem de longe. Se os caetés paparam o bispo Sardinha, e havia muita comilança de carne portuguesa moqueada, não falta atrocidade por todo território. desde aquele tempo. Filipe dos Santos, enforcado, teve o corpo estraçalhado ao ser arrastado pela ruas de Vila Rica preso ao rabo do cavalo. E Tiradentes, fatiado entre Rio e Minas? As barbaridades na guerra contra o Paraguai? Isso só para citar a atrocidade com selo governamental.

Cabeças decepadas rolam pelas páginas da história do Brasil e mais rolariam se fossem computadas as execuções urbanas, que ficaram apenas em jornais populares. No Rio, nos anos 1990, a onda por bom tempo foi bandido decepar inimigo. Mas a grande mídia não quis embrulhar o estômago daqueles que sempre viraram as costas para a realidade.

A brutalidade deste início de ano nas penitenciárias deveria provocar menos alvoroço e muito mais questionamento sobre a falência estrutural do Estado e a incompetência administrativa dos tais governantes de ontem e de hoje, que nunca souberam (ou desprezaram) tratar o problema. A começar pela construção e a manutenção do que chamam penitenciária. Gastam fortunas em construir e uma dinheirama para manter cada preso em meio à favelização arquitetônica - cenário digno de Canudos. Em meio àquela miserabilidade de condições, não há ressocialização, mas revolta. E as facções, com o dinheiro público, se apropriam facilmente das instalações. Com casa, comida e roupa lavada, às custas dos outros, fica mais fácil instalar Estado Maior para o comando da criminalidade. Ainda mais contando com a compra político-empresarial.

O governo finge que põe na cadeia pela segurança nacional; e os bandidos que cumprem pena para felicidade geral.
Luiz Gadelha

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