Há, também, obstrução por incompetência e gestão negligente da coisa pública. Basta lembrar a tragédia da barragem de Mariana, que, obstruída pelo excesso de rejeitos de minério, desobstruiu-se rio abaixo, lançando toneladas de lama sobre cidades, plantações, pequenos e grandes cursos d’água, fauna e flora, além de vilas litorâneas que tinham no turismo e na pesca suas únicas fontes de renda.
Na verdade, estão obstruindo tudo, ao desfigurar as dez medidas contra a corrupção, ao propor regime de urgência para a aprovação da lei de abuso de autoridade, numa clara tentativa de obstruir os trabalhos da Lava Jato. Trata-se de verdadeiros atos de obstrução da justiça social, já que atacam os cofres públicos, obstruindo progressos na educação, na saúde, na infraestrutura, na segurança pública e na oferta de empregos e moradias.
A bem dizer, a mais do que centenária história da República não passa de uma história de obstrução das mudanças políticas e comportamentais numa sociedade, cujas crescentes transformações econômicas e sociais não mais admitem a tolerância com o arbítrio, o mandonismo e as práticas predatórias de apropriação dos recursos públicos e da riqueza nacional.
Obstrui-se, inclusive, o trânsito de nossas cidades, cuja expansão desordenada deve-se, em parte, ao suborno de agentes públicos municipais, estaduais e mesmo federais para infringir as leis de uso do solo urbano. Um exemplo disso é a tentativa, num claro ato de abuso de poder, de revogar resolução da agência responsável pela preservação do patrimônio histórico nacional, com o objetivo de erigir uma torre residencial em local proibido.
A obstrução está por todo lado. Obstruem-se recursos destinados a construção e reforma de ferrovias, hidrovias, barragens e rodovias. Estas últimas continuam obstruindo, anualmente, a vida de cerca de 50 mil brasileiros, que nelas se aventuram a trafegar. Afinal, a prolongada e cansativa crise política nacional não é senão o resultado da desproporcional penetração política alcançada pelas forças da obstrução frente às forças do bem que atuam dentro ou fora do Parlamento. O cidadão comum, que tem seu bem-estar, para não falar de sua felicidade, há tanto tempo obstruído, anda descrente da possibilidade de que nossas instituições políticas possam proporcionar-lhe algo além dos sentimentos de impotência e revolta dos dias atuais.
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