sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Temer não tem coragem nem disposição para moralizar administração pública

A situação do país é desalentadora, não somente devido à gravíssima crise econômica e social, mas também em função da completa desmoralização do poder público. Em algum ponto fora da curva, o Brasil descarrilou dos trilhos da ética no trato da coisa pública. Embora estejamos em regime altamente democrático, com as instituições em funcionamento, o fato é que nos tornamos um país estranho, que funciona como uma ditadura vulgar, embora de vez em quando troque de presidente e de partido político dominante.

A deterioração começou no governo de Fernando Collor, um presidente que nascera em berço de ouro, mas tinha complexo de vira-latas e escancarou as importações, abrindo caminho à desindustrialização do país.

O presidente Itamar Franco era o contrário de Collor. Simples, modesto e trabalhador, fez da ética sua bandeira de luta, REequilibrou as finanças e entregou a seu sucessor um governo que tinha dívidas mínimas em relação do PIB e à arrecadação federal. Foi o melhor presidente desde Juscelino Kubitschek.


Quem causou os problemas atuais do país foi o deslumbrado FHC, que acreditava ser um novo Rei Sol. Cometeu grandes crimes de lesa-pátria, mas o principal deles foi a implantação do capitalismo sem risco, bancado pelas mais elevadas taxas de juros do mundo, que transformaram a dívida pública federal numa bola de neve. Até Itamar, a poupança era o investimento dos brasileiros; FHC criou os “rentistas”, os exploradores do capitalismo sem risco.

FHC foi sucedido por seu velho companheiro Lula da Silva, que seguiu estritamente a cartilha do neoliberalismo e ampliou a corrupção a níveis jamais imaginados. Os sindicalistas que empolgaram o poder rapidamente se tornaram novos ricos elitizados, transformando a administração pública na festa móvel imaginada por Ernest Hemingway. E a bomba estourou no colo de Dilma Rousseff, cuja incompetência era diretamente proporcional à sua arrogância. Entramos em parafuso.

O problema é que o presidente chama-se Michel Temer, que desde o ínicio é refém dos caciques do PMDB e se cercou de uma verdadeira quadrilha criminosa. Somenet agora está se libertando, mas ainda não conseguiu se livrar de Eliseu Padilha, que não larga a Casa Civil.

Temer tem a responsabilidade recuperar o país, mas é fraco, omisso, não sabe se impor. Para recuperar o país, é preciso haver união nacional. Temer sabe negociar com a presidente do Supremo, Sarney e FHC e impor uma solução para salvar Renan Calheiros, a pretexto de estar salvando a si próprio. Mas não tem coragem nem apetite para conduzir uma negociação capaz de salvar o Brasil.

O primeiro passo seria a moralização dos gastos públicos, fazendo um “downsizing” (enxugamento), como recomendam os americanos do Norte, especialistas em obviedades. Mas cadê disposição?

Todos sabem que chegou a hora de acabar com os gastos supérfluos. É preciso enxugar a máquina estatal, e isso passa pela extinção de todos os privilégios funcionais. Chega de penduricalhos salariais, tipo auxílio-moradia, auxílio-alimentação, auxílio-educação, que fazem a festa das autoridades. Chega de carros chapa-branca, motoristas a postos, combustível e manutenção de graça. Chega de cartão-corporativo e de verbas de representação. Não há alternativa, vamos cair na real no Executivo, Legislativo e Judiciário, e nos três níveis – federal, estadual e municipal.

Mas como imaginar que Michel Temer assumiria essa patriótica missão, se ele próprio é um privilegiado, que recebe remunerações de três fontes diferentes? Ganha R$ 30 mil como procurador aposentado, mais R$ 30 mil como presidente da República e R$ 19 mil adicionais como ex-deputado federal. O total é de R$ 79 mil mensais, sem contar o décimo terceiro salário. E tem as despesas da família totalmente pagas pela Presidência da República, que ainda lhe dá direito a um cartão corporativo. Nada mal, não é mesmo.

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