terça-feira, 8 de novembro de 2016

Uma noite de samba sem licitação no Planalto

Tenho uma tese: o poder faz mal à inteligência crítica, especialmente à de assessores. Vamos lá. Fôssemos do primeiro ou de segundo escalões de Michel Temer, e alguém sugerisse contratar artistas por R$ 596,8 mil para comemorar o, como é mesmo?, “centenário do samba”, a primeira reação seria a óbvia, a ululante, a escandalosamente evidente: “Melhor não, né, pessoal? Na era da austeridade, não fica bem! Se o governo quer homenagear o centenário do samba, basta ao presidente que fale alguma coisa ou emita uma nota. Ou que o faça o Ministério da Cultura”.

Mas não. Haverá cantoria, num evento fechado, na noite desta segunda, no Palácio do Planalto. Artistas foram contratados com dispensa de licitação. Todos eles são ligados à empresa Treco Produções Artísticas Ltda. No evento, 36 personalidades serão agraciadas com a Ordem do Mérito Cultural — na verdade, essa é a razão original do evento; o samba é o tema.

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Não vou atacar de moralista babaca. O Ministério da Cultura dispõe de verba para coisas assim. Cada pasta tem seu nicho de atuação. O governo pode dizer, inclusive, que está economizando. No ano passado, no governo Dilma, evento semelhante custou R$ 1,1 milhão, com show de Caetano Veloso. E ainda houve proselitismo contra o impeachment.

Desta feita, vão se apresentar Neguinho da Beija Flor, Márcio Gomes, Áurea Martins e André Lara. A cantora Fafá de Belém foi contratada para cantar o Hino Nacional.

Reitero: faz-se agora, com menos dinheiro, o que se fazia antes. Mas é evidente que se está entregando à imprensa um prato cheio de ironias, não? E ela tem de fazer o seu trabalho, é claro!

Ainda que eu não seja do tipo que converte todo gasto em número de bolsas famílias ou unidades do Minha Casa Minha Vida, é evidente que esse show seria dispensável. Que se concedam as tais medalhas em cerimônia compatível com tempos de crise. Que se aproveite para homenagear o samba com o recato daquela que pisava nos astros distraída. E não com a sem-cerimônia de quem pisa nos astros desastrado.

Ah, sim: Hino Nacional sem Vanusa não vale!

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