Pura malandragem retórica para retirar o foco de cima de si e dos seus, desviando-o para a dimensão geral da política – para assim defender com “nobreza” uma atividade central na vida humana. Mas não há nobreza alguma aí. O que há é a velha e célebre cara de pau de um bando de picaretas sem-vergonha.
Basta comparar. Quando desancamos médicos que lidam com o corpo humano como se este fosse mercadoria, o que acontece? Denunciamos médicos antiéticos, larápios, canalhas, etc., mas ninguém aparece para dizer que somos contra a medicina. Os políticos profissionais, que vivem da lábia e da engabelação, é que tentam fazer esse jogo trapaceiro.
Mas a questão da crise da representação política não vai ser rasurada do horizonte pela retórica trambiqueira desses caras. Desenha-se diante de nós, como nunca antes, a crise geral (definitiva?) do partidocratismo.
Gramsci viu bem, ao dizer que o partido político corre sempre o risco de substituir o movimento real da vida social pelo movimento interno da vida partidária. Com isso, o partido passa a representar principalmente seus próprios interesses – e não os interesses da maioria da população.
Imaginem aqui entre nós, num sistema político apodrecido que, quase de cabo a rabo, não conta sequer com partidos políticos, no sentido verdadeiro da expressão, mas com partidos meramente eleitorais, na acepção mais rasteira que isso possa ter.
Seja como for, a crise representacional parece hoje irreversível nas sociedades democráticas do mundo – e o Brasil não escapa disso. A cidadania está se constituindo atualmente como tendência à autorrepresentação.
Pessoas e segmentos sociais vêm encontrando meios de falar por si mesmos, sem precisar recorrer a mediações, dispositivos ou aparelhos representacionais. E, aqui, sublinhe-se a presença da internet.
Entre o espaço público e o espaço privado, a antiga e mais simples dicotomia de tempos atrás, floresceu o espaço virtual, onde o público e o privado se mesclam em entrelaçamentos promíscuos.
As pessoas passaram a articular suas informações e a ver a possibilidade real de coordenar suas ações. E o quadro é este: quando os políticos dão as costas à sociedade, nada mais lógico, natural e esperável que também a sociedade dê as costas aos políticos.
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