Aliás, é bom que se explicite a partir de agora o significado simbólico da adoção romântica das esquerdas à bandeira vermelha. A cor da emoção, do sangue, da animosidade revolucionária, por excelência. Da negação de “tudo isto que está aí”. A cor da revogação dos costumes e da tradição, do relativismo moral, da flexibilização dos valores e do gosto pela quebra de paradigmas. Perspectivas que produzem efeitos extraordinários no campo das artes e da cultura como costumo dizer. Mas de consequências desastrosas no campo da economia e da política. Pois a própria noção de equilíbrio é refutada pela alma romântica na mesma medida em que idealizada pela concepção classicista do mundo. O romantismo esquerdista é pura extravasão, acreditar mais do que ponderar, sonhar mais do que precaver, ousar mais do que sopesar. Mas não é só repúdio pela destemperança do vermelho que o eleitorado manifestou. É também pela estrela que quer anunciar boas-novas de todas as ideologias esquerdistas cosmovisionárias desde que o romantismo consagrou a arrogância do homem em querer determinar seu destino e se igualar a Deus. A clássica estrela de Belém, sinal divino que anunciava o Cristo, não era dos homens. Como a estrela estilizada que passou a bordar as armas e os uniformes dos sovietes russos, as bandeiras das comunas de agricultores chineses e as boinas dos guerrilheiros latino-americanos. Parece maldição, mas quando a estrela vermelha do esquerdismo, por simbolizar os cinco dedos da mão, as cinco classes sociais da vanguarda revolucionária e os cinco continentes da Terra, quer suplantar a azulada estrela de David de 12 lados, símbolo das 12 tribos de Israel, perde os anéis para não perder os dedos.
O maior problema da ambição internacionalista do comunismo, e sobre a qual se desgraçou na história, foi exatamente o de não respeitar os limites das nações, das famílias e das comunidades locais, para não falar na sagrada dignidade da pessoa humana. A aritmética cobra um preço alto nesses casos. As contas no vermelho não levam desaforo para casa, como diz a tradição. Aliás, as contas são vermelhas porque são deficitárias e os homens não toleram déficits na tradição ancestral do comércio. Pois a arte de comerciar, de trocar, que celebra a paz social, não paga tributo ao comunismo, uma vez que precisa salvaguardar o valor relativo dos preços das mercadorias, índices desprezados pelos esquerdismos, enfeitiçados pelas ilusões de mudar a natureza do homem, de criar um “novo” homem à custa de utópicas revoluções sociais ou culturais. A razão do fracasso das esquerdas é de não saber lidar com a cultura e tentar separa-lá das tradições no delírio gramsciano. De vermelho mesmo, o que o petismo conseguiu foi apenas colocar em déficit, não apenas as contas públicas, mas a renda dos próprios trabalhadores.
Por ironia do destino, o populismo tarifário da gestão petista só conseguiu mesmo decretar a bandeira vermelha nas contas de luz do trabalhador. O déficit das empresas na contratação dos empregos. O vermelho do alerta, da censura, do pare, do sacrifício, do holocausto, da suástica nazista, do radicalismo, da desmedida, do inferno e do demônio, enfim. Ao contrário da estrela azul de Israel. Porque o romantismo esquerdista despreza fazer contas, respeitar contratos ou honrar a palavra. Acha que tudo pode e brinca de Deus com a fé dos homens, sobretudo com os mais humildes na contradição irreversível de sua soberba. O momento não é para hesitações sociais-democratas, senão para o resgate do pragmatismo liberal amaldiçoado pelos socialistas. Daí a importância estratégica de se dar visibilidade aos conservadores na sua missão de temperar os liberais contra os socialistas envergonhados como os social-democratas. O momento não é para hesitações de nenhuma espécie, pois 12 milhões de desempregados têm pressa. É para tirar o Brasil do vermelho mesmo! Nos dois sentidos: tirar as contas públicas do vermelho e tirar a má gestão esquerdista dos governos. Como quer a maioria dos cidadãos que, há várias manifestações dos últimos anos, entoam o estribilho: “Nossa bandeira jamais será vermelha!”.
Jorge Maranhão
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