Como disse antes, esse conhecimento qualifica-se nos anos 60, e isso quer dizer que, tanto era contrarresposta ao vigente funcionalismo do planejamento urbano modernista, como também inseria-se numa conjuntura cultural muito fértil, do “paz e amor” ao desenvolvimento dos circuitos integrados que originariam os chips que controlam tudo agora.
Estranhamente, hoje, falar sobre a forma da cidade, tão absortos que estamos com economia, política, arte, meio ambiente, os importantíssimos virais das redes sociais, e crises sem fim, converte-te num “hippie” deslocado em um mundo apressado e aborrecido. Mas trata-se de tema essencial, pois a urbanização ocorre apesar do planejamento urbano.
Fazemos a forma da cidade coletivamente, mas ela também nos forma. Seu desenho tem impacto na qualidade de vida, libertando ou condenando-nos. Não à morte, mas a uma vida sem sonho, sem prosperidade, sem riquezas materiais e simbólicas. Aloisio Magalhães, grande designer e pensador, a quem sempre recorro em preces racionais, dizia: “Será que a nação brasileira pretende desenvolver-se no sentido de se tornar uma nação rica, uma nação forte, poderosa, porém uma nação sem caráter?” Com tantos centros históricos vazios e patrimônios culturais arruinados, com tantas periferias sem dignidade, temo que estejamos embevecidos, ou pior, que as próprias práticas políticas alimentem-se dessas formas urbanas desumanas.
A forma da cidade é também resultado do acúmulo politico. No Brasil é o produto imoral da ausência total de políticas habitacionais. Fechem o Ministério das Cidades, pois não serve pra nada! Seria uma boa economia. Por que os juízes não cobram a aplicação dos preceitos constitucionais na organização das cidades? Ou encaramos a agenda urbana ou continuaremos a reproduzir prisões políticas. Promete-se muito o que cada lugar da cidade quer ouvir, mas não temos evidências concretas que garantam melhorias urbanas.
Hoje é dia de eleição dentro das novas regras. Ótimo que se afastou o dinheiro de empresas, contudo a redução do tempo das campanhas é uma ameaça à qualidade da democracia. Já não há mais festa nem alegria no dia do voto. O exercício político da cidadania transforma-se em tarefa enfadonha. Deveríamos ampliar drasticamente o tempo das campanhas eleitorais de modo que se possa conhecer profundamente os candidatos. O que realizaram, seus planos, metas, números, fatos e evidências. Tão pouco a imprensa tem oportunidade para escrutiná-los revelando, com qualidade, pontos fracos e fortes.
Quatro anos são 1.460 dias, e será neste tempo que as cidades poderão melhorar ou não. A campanha eleitoral tem apenas 45 dias. É somente 3,08 % do tempo do mandato! É um equívoco matemático! É uma chave de cadeia condenando os brasileiros a cidades ineficientes, ruins, e indignas. Melhor lidar com candidatos por seis meses que com péssimos gestores municipais por quatro anos. Esse sistema é uma prisão política, condenando-nos a repetitivas formas urbanas desumanas. Precisamos de seis meses para conhecer e escolher prefeitos competentes, pois o brasileiro está preso em cidades que não consegue compreender e o político incapaz está solto por aí.
Washington Fajardo
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