quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Podemos deixar o palanque para a rua e ir além do discurso rasteiro

Vai-se tornando quase (mau) hábito falar mal da política, sobretudo dos políticos, como se fossem eles os únicos e verdadeiros responsáveis por nossos males. Milhões de brasileiros, além de descerem a borduna indistintamente em todos eles, comemoram a morte ou, então, a ameaça de morte de qualquer partido político, mas, principal e precocemente, a do Partido dos Trabalhadores, como se fosse ele o único e verdadeiro responsável pela crise que vive a democracia representativa, não só aqui, no Brasil, mas no mundo todo. Ou seja: a sociedade, em geral, não é responsável por nada, nem mesmo pelas pequenas mazelas. Pois essa é, também, tarefa do Estado.

Essa crítica feroz, feita à matroca, nunca expõe quem a faz. Esse, claro, se considera acima do bem e do mal – ou ser inatingível pelo erro, ou pela transgressão. Que não se lembra de que, como disse a escritora e jornalista Ana Maria Machado, em seu artigo no jornal “O Globo” do último domingo, “se quisermos ajudar o Brasil a ser mais democrático e a diminuir as desigualdades, cada um de nós precisa conversar mais, ouvir mais, abandonar a preguiça de pensar, acolher em si diferentes pontos de vista. Isto é, se acharmos que podemos deixar o palanque para a rua e ir além do discurso rasteiro e do deboche”.

Resultado de imagem para a culpa é nossa charge

Quase ninguém, com raríssimas exceções (refiro-me àqueles com quem lido com maior frequência), se dispõe a fazer um exame de consciência a respeito de seu julgamento, muitas vezes injusto. Não passa nem de longe por sua cabeça que tanto partidos quanto políticos só chegaram ao poder, no Legislativo e no Executivo (municipal, estadual e federal), por nossas mãos, isto é, tendo em vista nossos “rígidos critérios éticos”, que nunca falham, pois somos infalíveis.

Em certas rodas, sobretudo naquelas em que o dinheiro nunca falta, chega a ser chique falar mal da política, dos partidos, dos políticos em geral e, também, de nossas tristes mazelas, que nunca são vistas ou reconhecidas como consequência de nossas omissões ou escolhas.

Sobre a PEC 241, tenho ouvido o diabo. Para alguns, aliás, é o próprio, embora travestido do bem. As críticas, porém, são quase sempre improcedentes ou ideológicas. Há quem a compare ao Plano Collor, cuja inspiradora (ou apenas coordenadora) foi a ex-ministra Zélia Cardoso de Melo, atualmente exilada por vontade própria. E há quem diga que as já precárias saúde e educação, por falta de verba, simplesmente desaparecerão do mapa. Viveremos, de fato, o inferno.

Já afirmei e afirmo de novo, leitor: a PEC 241, que estabelece o teto dos gastos públicos, por si só, valerá pouco (ou se transformará numa grande decepção, ou num enorme desastre), se não vier acompanhada de outras reformas, também inadiáveis, mas, sobretudo, de uma gestão corajosa e eficiente, com vista à “destruição” de um Estado paquidérmico, que não nasceu agora, mas que precisa ser enfrentado o quanto antes. Para mim, a importância dessa PEC se torna mais necessária e até indispensável quando constato que, contra ela, se insurgem poderosos grupos corporativos que só pensam em seu bolso.

Não sou (dirijo-me a um de meus poucos leitores) um entusiasta do governo Temer, mas insisto em acreditar que ele não tem outra saída senão agir certo para conduzir nosso país até 2018, ocasião em que – assim espero – surja alguém neste deserto de homens (ou de agentes públicos) enfim voltado, por dever de ofício, ao bem comum.

Vamos cair já na real, minha gente!

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