quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A solidão de Renan Calheiros

A arenga do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) contra o Poder Judiciário pode ser chamada por qualquer nome, mas está longe de indicar que o país esteja às vésperas de uma crise institucional.

O Poder Legislativo é composto pelo Senado e pela Câmara dos Deputados. Renan preside o Senado.

Quando o Senado e a Câmara se reúnem para deliberar, diz-se que o Congresso está reunido. E é o presidente do Senado quem comanda a sessão.

Renan é, pois, o presidente de uma das casas do Poder Legislativo. Não é o presidente do Poder Legislativo.

Na linha direta de sucessão do presidente da República, o presidente do Senado é o terceiro. Antes dele estão o vice-presidente e o presidente da Câmara.

Michel Temer não tem vice, como José Sarney não teve, nem Itamar Franco. Os três substituíram presidentes afastados por impeachment (Collor e Dilma) e por morte (Tancredo Neves).

Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara dos Deputados, não está em rota de colisão com o Poder Judiciário.


Quem está é Renan. E não por que um juiz de primeira instância autorizou a Polícia Federal a prender agentes da Polícia do Senado, suspeitos de sabotarem a Lava Jato.

Mas porque Renan está encrencado com a Justiça onde responde a 11 processos, e vê a Lava Jato aproximar-se mais e mais dele.

Quando se sente acuado, Renan ataca. Faz barulho. E, por meio dele, tenta atrair apoios. Como fazia Eduardo Cunha, hoje, preso em Curitiba.

Como sabe que é generalizado no Congresso o medo da Lava Jato, Renan se oferece como líder da resistência contra suas investidas.

Falta-lhe coragem, porém, para bater no alto. Bate então num “juizeco” e em um ministro a quem se refere como “chefe de polícia”.

Não bate em Sérgio Moro. Muito menos em ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que o julgarão em breve por ter recebido dinheiro de uma empreiteira para pagar pensão à ex-amante.

Diante de uma reprimenda da ministra Carmén Lúcia, presidente do STF, mia como um gato e renova seu apreço ao Judiciário.

No dia seguinte, sugere que faltará a uma reunião convocada pela ministra para tratar de segurança pública. Para horas depois confirmar que estará, sim, presente à reunião.

É incentivado pelos colegas a ir em frente. Mas eles não se dispõem a acompanhá-lo. Está só. E a três meses do fim do seu mandato como presidente do Senado.

A Lava Jato está longe do fim. O mandato de dois anos da ministra Cármen Lúcia como presidente do STF está só no começo.

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