Não houve, pois, espanto quanto ao conteúdo. A surpresa foi a ousadia, rara, de dar nome (e patente) ao boi, Lula, brindando-o com os títulos de “chefe”, “maestro” e “general”, que, se não eram inéditos (e não eram), ganharam agora o selo institucional.
O próprio procurador-geral Rodrigo Janot, em junho, já o havia denunciado ao STF, ao lado de Dilma, Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardoso, por tentativa de obstrução da Justiça, em decorrência da delação do ex-senador Delcídio do Amaral.
Ora, inocentes não obstruem a Justiça; anseiam por ela. Há dias, o ministro Teori Zavaski, incumbido da Lava Jato no âmbito do STF, rejeitou recurso da defesa de Lula, que queria evitar Sérgio Moro. Não apenas rejeitou, como a acusou de estar querendo embaraçar as investigações. A diferença é que o fez sem estardalhaço. Mas fez.
Desde o Mensalão, a responsabilidade central de Lula nos acontecimentos criminosos da República era óbvia - e até mesmo a blindagem política que recebia (e ainda recebe) o evidenciava.
Como Lula não estava nos autos – já que o então procurador geral Antonio Fernando de Souza não ousou acusá-lo -, sentiu-se à vontade até para afirmar que o Mensalão não existira.
O que excita e surpreende na entrevista desta semana dos procuradores não é o que revelaram, mas o que ainda ocultam. Pela ousadia e segurança de suas afirmações, ficou claro que dispõem de lastro para sustentá-las. O que a defesa de Lula considerou “verborragia”, é apenas manifestação de pânico, algo assim como “o que mais eles já têm?” Santo André, talvez.
Os advogados sabem que a entrevista não se confunde com a denúncia e suas 149 páginas, de que constam provas as mais variadas: testemunhal, documental, pericial, indiciária.
É o relatório, não a sequência de slides, exibida aos jornalistas, que irá fundamentar a decisão de Sérgio Moro. A entrevista apenas resume a peça acusatória, que irá se somar às delações de empresários – as já feitas e as por fazer.
E há gente graúda por depor - Emílio Odebrecht, por exemplo, e outros, do mesmo naipe, que já o fizeram. E Lula está em todas essas confissões, em que o enredo é um só. Lula sabe que há muito mais por vir. O que o aflige é não saber ainda o que dele já se sabe.
O tríplex e o sítio, por exemplo, são café pequeno, mas mesmo assim evidências concretas de um vasto esquema de pagamento de propinas com dinheiro roubado da Petrobras.
Leo Pinheiro, da OAS – de todos os empreiteiros, o mais intimamente ligado a Lula -, já confessou que sítio, tríplex, reformas em ambos e mobiliário eram doações a Lula, a serem “descontadas” do montante de propinas que a empreiteira devia ao PT do botim da Petrobras. O que foi revelado, pois, é apenas o que se chama de fio da meada de um imenso novelo, que abarca todos os segmentos da administração pública, ao longo de quatro governos petistas.
E é esse vasto esquema que já está mapeado, tendo no comando e como beneficiário principal o ex-presidente Lula.
Lula e seus advogados sabem disso. O PT sabe disso. Daí o empenho, já demonstrado na fala inicial de Lula, de transformar denúncia de caráter penal em perseguição política.
Os desdobramentos desse entrechoque entre acusação e defesa, que em circunstâncias normais se daria nas barras do tribunal, preocupam. O ambiente está radicalizado. O PT irá às últimas consequências para se firmar no papel de vítima. Resta saber se haverá povo para segui-lo. Até aqui, os sinais são escassos.
O que está em pauta é apenas a primeira parte do processo, que é saber quem fez o quê. A seguinte é saber para onde foi tanto dinheiro – os bilhões da Petrobras não esgotam a rapina.
Há ainda os cofres da Caixa Econômica, do BNDES, do Dnit, dos fundos de pensão. Tanto dinheiro – até aqui, mais de R$ 100 bilhões – não cabe no bolso de ninguém. Parte dele foi para governos bolivarianos e ditaduras africanas. Com que propósito? Esse é o capítulo seguinte, que se inicia na sequência.
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