sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Incontinência verbal

Foi o romancista, dramaturgo e político inglês Edward Bulwer-Lytton (1803/1873) quem cunhou a frase que, para mim, mais reconhece o valor da palavra: "a pena é mais poderosa do que a espada".

Se você, Leitor, considerar que mais importante do que o que se fala é o que se ouve, tenho certeza que verá cristalinamente o valor da palavra. E a delicadeza com que essa ferramenta mais forte que a espada deve ser utilizada.

Sei que a Liberdade de Expressão é o mantra sagrado de nossos dias. Mas será que ela deve ser absoluta, essa sacrossanta liberdade, ou seria melhor que fosse equilibrada e muito bem pensada antes de ser utilizada?


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O Leitor leu sobre uma palestra que a professora de filosofia Marilena Chauí deu no Colégio Oswald de Andrade, na segunda-feira 26 de setembro, a alunos de 13 a 18 anos, sobre o tema “A Fragilidade da Democracia”? Em seu palavrório, a professora declarou que “a família é uma invenção do final do século XVIII e princípio do século XIX”. Achou pouco: disse também que os pais são déspotas e que quem defende a família é uma “besta”.

Tendo a concordar, já que as “bestas” pagam a esse colégio mensalidades bem salgadas para seus filhos ouvirem pessoas tipo a Chauí que já declarara, em tempos idos, que “a classe média é uma abominação política, porque é fascista, é uma abominação ética porque é violenta, e é uma abominação cognitiva porque é ignorante”. Não sei a que classe dona Marilena pertence, sei que ela se veste e decora sua casa exatamente como um membro da classe média alta brasileira (Revista Cult).

Os políticos também andam abusando do direito de falar sem pensar e matraquear tal papagaios. Ouvir certos candidatos a prefeito é doloroso. É verdade que depois de falar sem pensar, eles pedem perdão pelo que disseram. Esquecem que “perdão” não é borracha!

Exemplo? Um candidato a prefeito de Curitiba, Rafael Greca, disse “A primeira vez que eu coloquei um pobre dentro do meu carro, vomitei por causa do cheiro”.

Aqui no Rio tivemos um momento inacreditável de grosseria no debate entre os candidatos a prefeito. Alessandro Molon e Flávio Bolsonaro trocaram opiniões conflitantes, natural nesses debates, e o candidato Bolsonaro não soube responder à altura. O que fez o pai do candidato, que estava na plateia? No primeiro intervalo usou seu 'magnífico' direito à Liberdade de Expressão para dizer o seguinte ao concorrente do filho: “Você é um merda, um bosta, cuzão. Não bato em você porque se apaixona (sic) por mim".

Mas tem mais e que vem mais do alto: o ministro do STF, Ricardo Levandovski, que todos vimos cuidar do andamento do processo de impeachment da ex-presidente, numa palestra na USP, no dia 28 de setembro, qualificou o processo como um tropeço na democracia: “A cada 25, 30 anos temos um tropeço na nossa democracia. Lamentável, quem sabe vocês jovens conseguem mudar o rumo da história”. Já vi o impeachment ser chamado de muitas coisas, mas de tropeço? Essa foi nova.

A incontinência verbal, doença aparentemente incurável, não grassa só aqui. Nos EUA há um contaminado em alto grau: Donald Trump. Sujeito estranho, muito estranho, dos cabelos aos gestos que, aos 70 anos, está no terceiro casamento, sabe-se lá por quais motivos, mas que se deu ao direito de fazer um comentário machista e burro a respeito da vida do casal Clinton: “Se Hillary não consegue satisfazer seu marido, o que faz pensar que conseguiria satisfazer a América?”.

Trump usa as palavras não para construir alguma coisa, mas para destruir tudo que não seja uma Trump Tower, dinheiro que ele se gaba de saber empilhar. Dos negros diz que são preguiçosos por natureza. E que odeia ver negros contando seu dinheiro. Para essa ‘nobilíssima’ função, Donald diz que só gosta daqueles homens de baixa estatura com um solidéu na cabeça!

Quando será que descobrirão uma vacina?

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