quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Olimpída - De Keynes a Deaton

John Maynard Keynes irrompeu na filosofia política no limiar do século XX. E ganhou notoriedade ao final da II Guerra Mundial em 45, sobre as ruínas materiais e sociais que engoliam o continente europeu na fome e desemprego. O liberalismo do laisser faire reduzia-se impotente e frágil diante do desafio catastrófico de reerguer a economia. Neste cenário apontou Keynes propugnando ao Estado, aos governos o papel de conduzir a economia, naquilo que o empreendedorismo individual mostrava-se incapaz de cumpri-lo. Tese que Franklin Roosevelt levou à prática nos EUA de 39 a 45. Funcionou.


Guardando as devidas proporções, nossa Olimpíada pautou-se por um keynesismo sem fundos. Governos federal, estadual e municipal inadimplentes investiram maciçamente na festa esportiva mundial na esperança de que sobrasse algum proveito à cidade. Dos delírios demagógicos restaram as contas milionárias. E mais, a imposição inarredável de conservar o capital imobilizado ou abandoná-lo à ruína. Compromisso assumido por um estado incapaz de pagar os salários do funcionalismo. O governo olímpico do Rio, no auge da crise hospitalar, foi socorrido por três bilhões do governo deficitário Federal, cujo orçamento grava 170 bi negativos em 2016.

O economista Angus Deaton, prêmio Nobel de 2015, destacou-se nos estudos da micro-economia - a demanda e opção do comprador, o trivial comportamento popular exibido na feira diária. Pode servir à vista da Olimpíada. Afirma Deaton: aumentar apenas a renda dos mais pobres não reduz a pobreza se não for acompanhada do acesso à saúde e educação; mais importante que estimular o consumo é estimular a poupança para reduzir a pobreza. Deaton condenou a doação monetária e outras formas de assistencialismo aos governos africanos no combate à pobreza.

O crescimento econômico é que reduz a pobreza; não as doações. Deste confronto imaginário, ergue-se desafiadora a apolínea questão: pode um país endividado ao horizonte imprevisível, numa capital em guerra cercada de favelas, bancar uma Olimpíada?

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