segunda-feira, 11 de julho de 2016

Invertendo o jogo

A sacralização dos discursos e das posturas dos “oprimidos” – ou dos historicamente “humilhados e ofendidos” – às vezes dissimula ou esconde realidades que seria melhor explicitar, a fim de que as coisas sejam mais claras e discussões possam se aprofundar. Em alguns casos, basta inverter declarações aplaudidas para ver o que elas carregam de preconceitos com sinais trocados.

Agora mesmo, debochando da renúncia de Eduardo Cunha (quando é mesmo que o meliante será preso?), a pseudoafastada Dilma Rousseff botou as mãos nas cadeiras (nas poltronas, seria mais exato dizer) e disparou: mulher não cede, mulher não renuncia. E o público feminista teve orgasmos múltiplos.


Mas imaginem se tivesse acontecido o contrário. Se Dilma tivesse renunciado (o que já deveria ter feito) e Cunha botasse a boca no trombone pra dizer “homem não cede, homem não renuncia”. Em vez dos aplausos que a declaração de Dilma despertou, Cunha seria apedrejado como machista, etc.

Nesse passo, me lembro daquelas listinhas “opressoras” que as mulheres passavam, mostrando diferenças de sexo (ou de “gênero”, como se diz na gíria atual) em expressões linguísticas praticamente equivalentes, onde o preconceito aparecia com nitidez. Tipo “homem público” e “mulher pública”, por exemplo.

Mas elas omitiam pelo menos uma coisa, sempre. Nunca comparavam os sentidos quase opostos de dois vocábulos fundamentais: machista e feminista. Machista era e é sinônimo de opressor escroto, agressor, etc. Feminista, ao contrário, designa a mulher libertária, que luta por seus direitos e a igualdade entre os sexos.

Aliás, algumas amigas que me citavam irritadas exemplos de “machismo” na língua portuguesa, tratavam de mudar de assunto quando eu lhes dava exemplos do contrário, a lembrar que dizemos a natureza, a humanidade e a Terra... E nós, homens, nunca nos incomodamos com isso.

É curioso. Os “oprimidos”, os historicamente “humilhados e ofendidos”, só selecionam coisas que enfatizam sua opressão. E só celebram frases reativas, como a da senhora Rousseff sobre a renúncia. Nunca enfatizam vitórias, nem frases e comentários claramente afirmativos.

Tudo como as mulheres que dizem que o machismo teve a sua parte no impeachment de Dillma, mas fingem que ficaram surdas quando fazemos nossos elogios a Angela Merkel – esta, sim, uma “mulher de verdade”, e bem diferente daquela do samba (e da nossa atual “afastada”), desde que jamais abaixaria a cabeça para lulas, dirceus ou pastores evangélicos.
Antonio Risério

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