domingo, 12 de junho de 2016

Lula não gritou 'Fora Temer' porque sua única chance é o 'Dentro Temer'

Se Dilma não fosse tão cabeçuda, tão turrona, eu teria até um pouquinho de pena dela. Acontece que a mulher não deixa. Ela é tão escandalosamente tola na relação com o PT que chega a ser irritante. Vamos pensar.

Nesta sexta, houve manifestação contra o governo Temer em quase todas as capitais do país. A maior foi em São Paulo. Ocupou quatro quarteirões da Paulista, numa massa rarefeita. Os organizadores anunciaram 100 mil pessoas. Bem, com boa vontade, havia lá umas 20 mil. Os petistas não enganam nem os próprios militantes.


E olhem que Lula, a estrela maior, anunciou presença e, de fato, discursou. Dilma é politicamente xucra; ele não! Atenção! O chefão do PT não gritou “Fora Temer”. Até porque Lula tem a esperança de que o “Dentro Temer” possa ainda beneficiá-lo. Vamos, então, pôr os pingos nos is.

Atenção! O PT que pensa já desistiu do “Fora Temer” e não quer nem ouvir falar em “novas eleições”. O PT que tem miolos está se preparando para 2018. Quem é antipetista tem de se preparar é para enfrentar o partido que raciocina, não o que rumina a derrota. Explico melhor.

O PT e os ditos movimentos sociais levaram Dilma a se comprometer em assinar uma carta que anuncia a conversão de seu governo à esquerda caso ela sobreviva ao impeachment. Atenção! Ela só volta à Presidência por vontade dos senadores, mas estaria assumindo um compromisso com os esquerdistas. Resumo da ópera: só ela acredita que essa conversão poderia levá-la de volta ao Planalto. Ao forçá-la a fazer esse movimento, os petistas a fazem assinar a sentença de morte.

Os dilmistas — uma minoria de lunáticos no PT — afirmam que a presidente afastada “aceitaria” (podem rir!!!) convocar um plebiscito com vistas a novas eleições. Assim, caso fosse reconduzida ao Palácio, aceitaria a consulta popular. Pois é… Lula já deixou claro que não quer nem ouvir falar dessa história, num sinal de que louco não é.

Entre quatro paredes, os petistas do núcleo duro só não chamam Dilma de Schopenhauer… Por quê? Lula já dá de barato que Temer ficará na Presidência até 2018 e conta com ele para fazer o ajuste de que o país precisa. Uma eventual eleição agora o obrigaria a disputar a Presidência. Se derrotado, seria o fim da linha. Se vitorioso, o que é improvável, também.

Os petistas que pensam (não é o caso de Dilma), ainda que coisas malignas, ponderam que o pior cenário para o partido seria a volta de Dona Doida ao poder. A simples piora das expectativas conduziria o país à ruína, sem contar que ela reassumiria como refém dos movimentos de esquerda.

Mas, então, o que quer o PT? Ora, manter o país num clima de mobilização constante até 2018, jogando nas costas de Michel Temer a responsabilidade por todos os desacertos. Pensem: por que a CUT rejeitou a proposta de greve geral de Rui Falcão? Vagner Freitas, o presidente da entidade, explicou: porque, até agora, o presidente interino não tomou nenhuma medida que a central possa tachar de “contra os trabalhadores”. De fato, o PT, hoje em dia, torce por cortes em programas sociais porque sabe que, sem isso, fica difícil levantar uma bandeira.

A aposta do PT, hoje em dia, é no desgaste de Michel Temer. O núcleo duro do partido chegou à conclusão de que essa é a única chance de sobrevivência do partido. A volta de Dilma corresponderia a condenar a legenda à morte.

Mas, então, nós, os que não somos petistas, não deveríamos torcer por isso? Não! O Brasil é maior do que o PT. O partido morreria, sim, mas o país, que já vive uma crise de dimensões inéditas, tenderia à ingovernabilidade.

Dilma sabe que o PT não quer a sua volta? Ela sabe, sim, mas não se conforma. É por isso que, à diferença do que reza a lenda, a Afastada e Lula se odeiam. Ele tem a certeza de que ela conduziu o PT à ruína. E ela tem a certeza de que nada mais fez do que dar sequência à obra do mestre. Quem está certo? Os dois!

Lula não gritou “Fora Temer” porque sabe que a sua única chance de sobrevivência está no “Dentro Temer”. Já deu início à campanha eleitoral. O chefe inconteste do partido que comandava a organização criminosa que tomou conta do estado brasileiro ainda teve a cara de pau de chamar os deputados de picaretas, relembrando frase célebre de 1994.

Pois é… Vinte e dois anos depois, sabemos que o partido de que ele é o líder máximo comandou o maior assalto aos cofres públicos de que se tem notícia.

Eis Lula, o que não é… picareta!

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