quarta-feira, 29 de junho de 2016

Cultura da boca livre

Há pouco mais de um mês o Brasil assistiu ao espetaculoso movimento produzido pela denominada classe artística contra o fim do Ministério da Cultura e o possível estrangulamento da joia da coroa: a Lei Rouanet. A mídia e as redes sociais foram tomadas por gritos histéricos condenando o cataclisma do atentado contra a cultura com o fim do ministério.

Houve quem via nisso o choro de desmamados. Nunca em tempo algum a cultura serviu tanto como bandeira política para encher o bolso de uns e outros de forma descaradamente eleitoreira. Foram anos de escandalosa apropriação de dinheiro público para colorizar o mural nebuloso de uma vitória do povo.


A operação Boca Livre desta semana deixou muita gente de cabelo em pé e mais um batalhão calado. Ainda não se ouviu nenhum gritinho de artística histeria contra a devassa nas contas da cultura de massa subsidiada.

A rapinagem dos cofres públicos, em nome da cultura, não é de hoje. Apenas se institucionalizou quando se descobriu que qualquer coisa pode levar o nome de Cultura (assim com maiúscula) quando o termo foi banalizado em nome de interesses econômicos e principalmente políticos.

Quantas orquestras jovens, quantos cursos artísticos, quantas peças teatrais amadoras foram incentivados nos municípios? Mas foram incontáveis os shows pagos com dinheiro público para dar "circo" ao povo como convém à petralhada dos últimos anos. Nem falta neste histórico a vangloriosa afirmação de um prefeito de ter promovido mais shows em sua gestão do que em toda a história municipal de séculos. Uma apresentação revoltante da apropriação indébita dos cofres públicos devidamente aplaudida pela gangue eleitoreira.

A operação Boca Livre só pegou uma casquinha de ovo. Há ainda uma granja inteira para se investigar em todos os setores da cultura. Em particular na área do livro, na qual a Lei Rouanet bancou e ainda banca iniciativas como a encerrada no fim de semana em Maricá, supostamente cultural. A última de uma série de promoções culturais em ano eleitoral para incensar candidatos da situação como protetores da cultura. Um preço muito caro para realizações medíocres em detrimento das verdadeiras necessidades de um município.

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