Daqui a três meses o Brasil estará votando para prefeito e vereador. Em 5.587 municípios os eleitores participarão daquela que deveria ser a eleição mais disputada do país. Deveria, mas não será, tendo em vista a completa indiferença popular diante da escolha mais importante da representação política nacional. Mesmo nos grandes municípios, como nas prefeituras das capitais estaduais, há indiferença generalizada. Imagine-se nos grotões.
Dizia o dr. Ulysses que ninguém mora na União, sequer nos Estados. Só nos municípios, quer dizer, nas cidades. Os presidentes da República, governadores, deputados e senadores dispõem de imensuráveis poderes e responsabilidades. Mas é para os prefeitos e vereadores que o cidadão comum se volta, em especial quando lhe doem os calos. Daí mais um motivo para a não coincidência de mandatos dos planos estaduais e nacional com os municipais.
Continuando o desinteresse provavelmente olímpico entre os eleitores e seus imediatos e óbvios representantes, o risco é desse sentimento atingir os outros planos, daqui a dois anos.
A dúvida é se a sombra da corrupção municipal começará fornecer material tão farto quanto as denúncias que vêm enlameando os Estados e a União. Parece que sim, abrindo-se agora a temporada de caça aos prefeitos e vereadores, que apenas por falta de interesse maior vinham poupando a ação da Justiça e o noticiário dos jornais. Mas que tem prefeitos e vereadores em profusão, capazes de ser denunciados e até obstados em suas pretensões de reeleger-se, é mais do que natural. Os tribunais regionais eleitorais terão trabalho redobrado.
Sinal dos tempos bicudos que vivemos em termos de representação política está no fato de que, nos Estados, são poucos os observadores em condições de apontar os candidatos a prefeito de suas capitais. Nos outros municípios, também.
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