domingo, 26 de junho de 2016

Mamãe eu quero mamar!

Que saudades do tempo dos malandros que “batiam carteira”, sorrateiros de mãos leves; dos ladrões que roubavam galinhas; e da época que os políticos apenas mentiam e falavam palavras de efeito. Saudades dos tempos em que a Petrobras furava petróleo no Recôncavo baiano e o Rio era boêmio. Na Afonso Pena, havia árvores e BH era a “Cidade Jardim”. O Mineirão cabia 150 mil pessoas, o clássico era divido ao meio e ninguém morria espancado.

Homens flertavam apenas com o rabo de olho, e as mulheres dificultavam ao máximo. Tarado era quem falava palavras “feias” e desrespeitosas. Crianças viviam nas ruas, seu mundo variava do mágico ao ingênuo. Delta Larousse e Barsa eram nossos Googles poderosos. Ah! Já ia esquecendo nesse meu delírio saudosista e ridículo: filhos respeitavam e admiravam os pais e os professores eram referências e mestres. Esse mundo fossilizou, não existe mais, mas lembranças sempre me farão muito feliz.


Sim, meus jovens, sou um dinossauro bem-resolvido, revivido, tecnofóbico, esperando a extinção com um sorriso nos lábios e uma frase que não quer calar: “era feliz e sabia ser!”. O resto é história que guardo para contar para os netos, que ainda não tenho, pois os filhos estão compenetrados nas suas telas.

Mas, com esse mar de lama que devastou o rio Doce; o tsunami de figuras importantes da “república do quem rouba mais”; do capitalismo das desigualdades; da Inglaterra, que inventou o colonialismo, e agora quer pular fora do barco dos náufragos, dos botes dos pobres ex-colonos, da revolução industrial que obriga tropicais a usar ternos e ter que falar inglês e agora diz um “dane-se todo mundo, pois aqui é a terra da rainha”; literalmente ,estamos no início do fim dos tempos.

Um brinde à civilização, a todos nós que embarcamos nessa canoa furada. Merecemos nossos políticos, nossas dívidas, nossa avacalhação, nossa Copa, nossa Olimpíadas onde recorde de zikas, medalha de ouro de corrupção, desfile de abertura da vergonha e incompetência, mais uma vez nos goleará de 7 a 1.

E ainda faremos piadas, memes, esperaremos o Carnaval e embebedaremos ao som eterno de “Mamãe eu quero, mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar ...” Acústica campeã há décadas, afinal é a nossa cara! Doidos que somos para mamar na teta farta do país mais fértil e de mais futuro do mundo.

Somos essa gente morena que quer mostrar valor, que se torna preta se isso ajudar a passar no concurso, que finge ser branca quando latina vai às compras em New York. Mal-resolvidos, ora esquerda em festa e protesto, ora direita em mordomias e privilégios, ou centro na indiferença que nos faz eleger os coronéis e seus cabos que mantêm a ignorância no cabresto.

O mundo está aqui no nosso quintal, na nossa casa. Globalizou a injustiça, o egoísmo, a indiferença, a vaidade, o cada um cuida de si e nem mais Deus dando conta de todos. Sai da frente que eu quero passar, nem que seja pisando em cabeças, pagando por fora, sendo amigo do fulano que é filho do coronel.

Enfim, a profética marchinha se mostrou verdadeira: “Me dá chupeta, me dá chupeta, pro nenê não chorar”. No fundo, somos o país que adora mamar, de preferência, com o mínimo esforço, e até desdentado. “Olha a cabeleira do Zezé...” Aí vem o politicamente correto, é melhor parar por aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário