A cena era enigmática. Enquanto torturava o idioma e expunha logica, quando inteligível, mas sempre duvidosa, não entusiasmava nem mesmo a plateia amistosa. Minguaram aplausos, faltavam emoções.
Sobre o palco improvisado, o fim de festa. Atrás da oradora, o drama transcorria, tornando irrelevantes suas palavras. Três companheiras vestidas em vermelho, xadrez e branco conversavam. Por motivos somente por elas conhecidos, sorriam, possivelmente constrangidas pela situação. Temiam o futuro. Contemplavam o momento. Quando festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou.
Terminou seu discurso. Talvez o tenha encurtado ao sentir a irrelevância de seus pensamentos confusos entregues sem carisma ou clareza que talvez pudessem redimi-los. É possível, mas improvável. Sensibilidade nunca foi seu forte.
Atravessou o gramado para se tornar a pária do destino que fez por merecer. Saboreava o amargor de seus últimos momentos de notoriedade. Ao fundo, apenas gritos histéricos de claque adestrada. Protestavam contra tudo. Contra a mídia. Contra o congresso. Contra a justiça. Contra a tomada de três pinos e, havendo oportunidade e conveniência, até mesmo contra o pastel de carne.
Os poucos metros provavelmente pareceram eternos. Muita coisa deve ter lhe passado pela cabeça. E assim ela se foi. A bordo de um carro preto, claro. Talvez tenha sido esta a travessia sobre a qual tanto falou. Difícil dizer. De certo, apenas que rolava costa abaixo. A gravidade é impiedosa.
Seu nome, a esta altura já havia percebido, escorregava das manchetes para o rodapé e dali, possivelmente para o nada. Estava condenada a arrastar por esse mundo a vergonha de ter sido, e a dor de já não ser. Em direção ao esquecimento. Sem amigos. Sem carinho. Sem discurso. Irrelevante, enfim. Felizmente.
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