quinta-feira, 26 de maio de 2016

Distante do povo

O vaivém do MinC expôs o distanciamento de artistas em relação ao povo. Em 2014, os servidores do Iphan pararam as atividades dos museus por justa luta salarial. O Masp completou, em 2007, 60 anos com dívidas astronômicas e visitas decaindo; no mesmo ano, 76 instituições fecharam as portas temporariamente. O Masp só começou a ter solução ao fim de 2014, sem intermédio do MinC. Pouco se fez pela valorização do museu. O ano de 2015 foi ameaçador para o Museu Nacional. Recentemente, O GLOBO publicou fotos dos graves problemas estruturais na Biblioteca Nacional, onde está a memória do Brasil desde o Império.


Os investimentos dos últimos 13 anos se basearam nos artistas, e não no público. O MinC se restringiu a editais para produção de filmes, shows e peças de teatro, mas as bilheterias dos filmes nacionais são ínfimas, e essa produção só rodou festivais vistos por cineastas. Pergunte nas ruas o nome do último filme nacional a que assistiram. As salas de rua somem, e os blockbusters dominam o cardápio cinematográfico, deixando às produções locais tempo suficiente para apenas parentes e amigos assistirem. As temporadas teatrais são curtíssimas.

O Ibope divulgou que nenhum escritor da nova geração é lembrado em sua recente pesquisa, os contemporâneos na boca do povo se limitam a Paulo Coelho e Padre Marcelo Rossi. Cadê as livrarias de rua, que aproximam os autores dos leitores? O que foi feito das bibliotecas públicas?

Pontos de cultura, política pública de aproximação entre arte e público, têm sofrido para sobreviver. Artistas se fecharam em eventos, a sociedade os vê como vagabundos usurpadores do dinheiro público. Enquanto o impune crime da Samarco sufocava pessoas, vidas, patrimônios, artistas desfilavam no Planalto ao som de “Alegria alegria”. Após o governador baiano aplaudir uma chacina na periferia, o mais famoso ator brasileiro vinha de Los Angeles abraçá-lo e pedir dez milhões do Erário para um filme sobre Marighella. Em Salvador, ocuparam a sede do MinC ignorando que ele se localiza no abandonado Centro Histórico da primeira capital do país. Colocar-se dentro de um vestido chique e desfilar por Cannes com placas “Golpe no Brasil” não pega bem para 11 milhões de desempregados.

Esse distanciamento produziu uma profunda ignorância da sociedade a respeito do trabalho de fazer arte e da importância econômica e social desta indústria limpa e transformou os frequentadores palacianos, calados diante da dilapidação da Petrobras — principal empresa fomentadora de produções artísticas — em inimigos dos que morriam de bala e de falta de leito.

O governo interino fez lambanças como convidar medalhões nada a ver com a política para acalmar os ânimos; o desafio de Temer agora é criar um nobre ministério e dar espaço para Marcelo Calero, acabando o aparelhamento e fomento ideológico.

Não dá para abraçar um projeto de poder criminoso e sentir-se incompreendido pela população que pouco se beneficiou do Ministério da Cultura.

Thiago Mourão 

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