quinta-feira, 26 de maio de 2016

De Getúlio a Temer, para os pessimistas, tudo é lucro

Acompanho a política em nosso país e fora dele, e incluo aqui a política estudantil (da qual participei), ocasião em que nos dividíamos entre a União Democrática Universitária (UDU) e a Frente Acadêmica Renovadora (FAR), desde os bancos da Faculdade de Direito da então UMG, hoje UFMG, quando mal entrara na casa dos 19 anos.

Vejo passar agora, pela retina de meus olhos, figuras realmente de escol, tanto nas cadeiras da velha Casa de Afonso Pena quanto na política, na magistratura, na literatura, no jornalismo, no humanismo, na ciência, no empreendedorismo. Enfim, nas mais variadas atividades humanas, que não devem em nada a alguns dos maiores que integram hoje essas mesmas classes ou, no dizer atual, categorias.

Antes, ainda adolescente, eu já era leitor de livros, que buscava na biblioteca de meu pai ou na de algum de meus irmãos mais velhos. Lia, também, excelentes articulistas da época. Como meios de comunicação social, dispúnhamos do rádio e de muitos jornais. Vários deles integravam o condomínio constituído pela figura polêmica de Assis Chateaubriand, que chegou a comandar 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, uma revista semanal, uma mensal, a editora O Cruzeiro e várias revistas infantis.

Em 1959, pelo rádio, e já recém-bacharel em direito, ouvi, entusiasmado, o discurso de Fidel Castro, logo depois de descer da Sierra Maestra, botando para correr um ditador sanguinário. Depois de Getúlio Vargas – ditador no Brasil durante 15 anos, deposto em 1945, mas eleito pelo voto em 1952, para tisnar ainda mais a República –, esta talvez tenha sido a segunda grande decepção daquele jovem cheio de sonhos. Ao lado do irmão, alçado ao poder por ele, ambos já velhos, e ao longo desses últimos 57 anos, vem cometendo um pequeno deslize – o de não devolver ao bom povo cubano a decisão sobre seu próprio destino.

No dia 24 de agosto de 1954, antes de terminar a primeira aula na velha e saudosa Casa de Afonso Pena, antes mesmo das 8h e já cientes do suicídio do presidente Getúlio Vargas, rumamos – com vários colegas – para a praça Sete e nos postamos em frente ao antigo Cine Glória. Ali, entre as árvores que formavam um garboso batalhão, abatidas, afinal, pelo prefeito Jorge Carone Filho, ouvimos, atentos e emocionados, pelo alto-falante, a carta-testamento do velho ditador. Em especial, doeu-me muito aquele episódio. Ao lado de alguns colegas, dias antes, por ocasião da inauguração da siderúrgica Mannesmann, promovemos seu enterro simbólico, em desfile pela avenida Afonso Pena, sob os protestos do professor (e nosso diretor) Antônio Vilas Boas.

Vieram depois Café Filho, Carlos Luz, Nereu Ramos, JK, Jânio Quadros, Ranieri Mazzilli, Jango, Castelo Branco, Costa e Silva, Junta Militar, Médici, Geisel, Figueiredo, Tancredo, Sarney, Collor, Itamar, FHC (duas vezes), 13 anos e pico de Dilma/Lula e, agora, Michel Temer. Não posso dizer mais nada (os caracteres!), talvez só concordar com Carlos Heitor Cony: “Não tenho a obrigação de ser otimista, que no fundo é apenas um mal-informado. Sendo pessimista, tudo para mim é lucro”.
Sou, quem sabe, como Cony, um otimista às avessas.

Ou seja: insisto em ter esperança. Não admito – como Arnaldo Jabor – que nosso destino seja realmente o brejo. Mas calou-me fundo o final de sua coluna de anteontem: “E minha vida vai passando… Ainda bem que vou morrer um dia e não vou ver mais essa m…”.

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