Para ele, um milhão, que é troco para os políticos corruptos, já é uma cifra das galáxias.
Eu o entendo quando, depois de me informar quanto ganha por mês, lhe expliquei que um milhão de reais é o que ele receberia trabalhando durante oitenta anos. Olhou-me espantado e exclamou: “Tudo isso?”.
Será possível para ele semelhante proeza com o respaldo que vai ter no Congresso dos deputados e senadores abertamente incriminados na Lava Jato?
Pode ser que até os mercados o perdoassem. É possível que forças importantes de poderes fáticos assim exijam. Os cidadãos seriam os únicos que nunca o perdoariam, a começar pelos que hoje abandonam, às vezes com um rompimento doloroso, o PT, acusado, mais do que ter quebrado a economia, de ter-se convertido em um partido tão corrupto ou mais que os outros.
Temer terá de prestar contas de como pensa combater a ditadura da corrupção implantada no Brasil e que a sociedade coloca nas pesquisas como sua maior preocupação.
Sim, a ditadura da corrupção, porque existem as ditaduras militares, de esquerda ou de direita, mas também as sociais e éticas.
As militares matam e torturam e despojam os cidadãos de suas liberdades. A ditadura da corrupção golpeia também não só simbolicamente, mas física e moralmente.
Quando os cidadãos que trabalham duro para levar adiante sua família e seus sonhos dão de cara com a ditadura da corrupção, abraçada pelos políticos, se sentem também moralmente torturados.
A ditadura da corrupção golpeia também fisicamente, já que esses bilhões de dólares roubados da sociedade são subtraídos da saúde, que acaba produzindo, nos hospitais sem recursos, dor e morte. Não por acaso os mais pobres são os mais indignados com os políticos corruptos.
A ditadura da corrupção fere e mata, física e psicologicamente, os milhões de pessoas golpeadas pelo drama do desemprego ou afogadas em dívidas. Ou as que ficarão culturalmente inválidos por toda a vida por terem sido castigados com um ensino que não os prepara para enfrentar o futuro.
Se Temer veio para dar o golpe fatal à luta contra a corrupção, melhor que, antes que seja tarde, diga também ele aos que o empurram a essa triste aventura: “Tchau, queridos”.
A sociedade lhe agradeceria.
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