Só há uma coisa a comemorar nesse fim melancólico do regime petista. É o gosto que boa parte da sociedade tomou pela política. Ninguém tem motivo para ficar alegre com a decepção dos que foram enganados pelo discurso da esperança e da justiça, com o desespero dos desassistidos pelos serviços públicos e muito menos com a frustração dos 8 milhões de desempregados e a inquietação dos 60 milhões de endividados inadimplentes. Sobra ansiedade diante do legado de inflação, queda na produção, sucateamento da saúde e da educação, destruição da Petrobras, rombos no FGTS e fundos de pensão, disseminação da corrupção, acirramento de conflitos sociais, a angústia de todo um povo.
Não há o que festejar e também não é preciso esperar a decisão da Câmara no próximo domingo sobre o impeachment da presidente Dilma – ou o julgamento final do Senado – para celebrar o réquiem do governo.
O regime petista acabou. O que presenciamos hoje é a agonia de seus fantasmas, o estertor de uma presidente irada discursando para claques no palácio, o esforço frenético para comprar aliados e o rumor patético dos acólitos reverberando a narrativa farsesca de um golpe.
A presidente acusa o processo de impeachment de golpe. Não é verdade. O pedido formulado por Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal tramita desde dezembro no Congresso, seguindo rito definido pelo STF, com respeito ao contraditório e ao direito de defesa, totalmente às claras, com cobertura da imprensa e amplo debate na sociedade.
A presidente diz que as pedaladas fiscais e demais delitos apontados no pedido de impeachment não configuram crimes. Não é verdade. São atos de sua responsabilidade direta que ferem leis e a Constituição.
A presidente atribui a crise a adversários que não a deixam governar. Não é verdade. Ela não governa porque é incompetente, arrogante e está desmoralizada por chefiar um governo responsável pelos maiores escândalos de corrupção de que se tem notícia no planeta.
A presidente afirma que seus adversários querem destituí-la para acabar com os programas sociais. Não é verdade. Nenhum líder ou força política é capaz de governar o Brasil sem preservar e aprimorar os serviços públicos, as políticas afirmativas e a distribuição de renda.
Os regimes não morrem do dia para noite. Vão morrendo. Quando acabou a ditadura no Brasil? Em 1979 com a anistia e a revogação dos atos institucionais? Em 85 com o fim do governo Figueiredo? Ou em 88 com a Constituição? Ou foi muito antes, quando o modelo econômico esgotou e a resistência da sociedade aumentou?
Quando terminou o regime petista? O petismo do sonho socialista sequer chegou ao poder. Logo no primeiro mandato, Lula entregou a economia aos bancos, sem nenhum sistema de freios e contrapesos, iniciando uma era de lucros recordes, taxas de juros recordes e endividamento geral de uma população seduzida mais pelo consumismo que pelo bem estar.
O petismo da honestidade e da justiça também não alcançou o poder. Foi logo trocado pela aliança com o empresariado mais voraz e com as lideranças políticas mais retrógradas, que rapinaram a Petrobras, o BNDES, a poupança voluntária e compulsória dos trabalhadores em conluio com a máquina política e burocrática do governo.
Quando terminou o regime petista? Foi com a decisão de comprar a alma dos movimentos sociais anulando sua potência crítica? Foi com a decisão de substituir a política pelo leilão de apoio parlamentar com o Mensalão? Foi com a decisão de aparelhar as estatais e órgãos públicos transformando a corrupção em política pública? Foi com a decisão de tornar a mentira seu principal cabo eleitoral?
Seja qual for o resultado da votação na Câmara de Deputados neste domingo, 17 de abril de 2016, será apenas mais uma etapa dessa história vergonhosa. Se Dilma, Lula e o PT vencerem, a agonia vai continuar com o acirramento da crise, o aprofundamento da Lava Jato, o processo de cassação da Chapa Dilma-Temer no TSE e a pressão popular.
Se Dilma, Lula e o PT perderem, o governo que surgirá terá de ser transitório. Deve durar o suficiente para convocar eleições limpas e dar posse ao presidente eleito. Se não fizer isso, vai ser breve do mesmo jeito, igualmente por conta da Lava Jato, do processo no TSE e da pressão popular.
O legado positivo de toda essa crise é a politização da sociedade. Hoje a política está no coração, na cabeça, na conversa e na preocupação do brasileiro. Os milhões que se manifestam nas ruas e nas redes contra a corrupção, o aparelhamento e a destruição da economia não vão admitir a continuidade desse governo nem vão aceitar gambiarra política dos que abandonam o barco do petismo na hora do naufrágio. A maioria absoluta dos cidadãos quer a saída de Dilma e o fim do regime petista. E não quer mais jeitinho. A sociedade tomou gosto pela luta. Sabe que vai ter de resgatar o próprio destino. Vai ter de reconstruir o Brasil. O caminho é o debate político, o voto e a democracia.
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