segunda-feira, 21 de março de 2016

Lula na contramão de Collor

Quando renunciou à Presidência da República, em 1992, Fernando Collor abandonava o poder com o objetivo de tentar escapar das garras da Justiça, que acabou por lhe cassar os direitos políticos por alguns anos, após os quais retornou com ficha limpa para o Senado. Os momentos que antecederam a renúncia foram de imensa tensão, tanto no meio político quanto empresarial. Havia rejeição até então inédita do governo, e a oposição não era composta somente pelos caras-pintadas radicais que insultavam o então ex-presidente na lateral do Palácio do Planalto. Os fatos eram inéditos, e e as opiniões sobre o que poderia ou não poderia acontecer eram tão obscuras e contraditórias quanto foram quando da morte de Tancredo Neves.


Lula, agora, faz o caminho inverso, agarrando-se a qualquer migalha de poder, subindo de elevador privativo para o lugar onde o superpoderoso José Dirceu finalmente foi desmascarado antes de ser condenado e levado para a cadeia. É preciso lembrarmos que a Casa Civil, além de conceder foro no STF para o ocupante, é o lugar onde foram praticados a maioria dos atos que envergonham o Brasil mundo afora. Foi lá que aconteceu o escândalo que envolveu Erenice Guerra. Foi de lá que partiram as maquinações do Mensalão. Era na condição de ministra que a atual presidente Dilma comandou a Petrobrás quando decisões inimaginavelmente desastrosas foram tomadas, com seu nome escrito e sua assinatura rabiscada em contratos lesivos ao patrimônio da empresa. Por outro lado, foi de lá que Dilma deixou o primeiro escalão do governo para assumir a presidência...

A avaliação dos eventos recentes envolvendo a posse de Lula no ministério exige cautela e conhecimento. Não basta a enorme indignação da imensa parcela da população que se manifesta contra a nomeação para que o ato seja invalidado. Uma decisão liminar contra a posse já caiu. A decisão do ministro Gilmar Mendes ainda será apreciada pelo plenário do Supremo e, avaliando com os pés no chão, ainda tem como ser anulada.

Corremos o risco, portanto, de termos um ministro em campanha full time para as eleições de 2018. Com a caneta que nomeia e autoriza (ou decide) pagamentos na mão. Uma pessoa que tem aglomerados, organizações e sindicatos às ordens para impedir a oposição de falar e a população de se mover, que podem agredir e insultar qualquer um que divirja da sua ortodoxia dogmática, uma espécie de santo intocável com alguns milhões de devotos capazes de qualquer coisa.

É muito preocupante que exista uma pessoa assim, capaz de deflagrar movimentos imensos de ódio irracional pró e contra. Eu temo imensamente pelo futuro do país e dos nossos filhos, caso uma eventual ação da Justiça que leve Lula à companhia de seus amigos e partidários na Papuda deflagre movimentos ainda maiores e mais violentos. Esse não deveria ser o custo da democracia e da transparência. As coisas não deveriam ter evoluído tanto. A sangria deveria ter sido interrompida lá atrás, qualquer que seja o lugar e o momento em que tenha começado. Ao menos esperamos que tudo o que está ocorrendo ensine alguma coisa útil. Tanto a quem governa (ou julga) quanto a quem vota.

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