Num de seus mais recentes artigos, o jornalista Elio Gaspari faz um inventário das mentiras de Doutora Dilma. Seja para trapacear nas eleições, seja para esconder sua incompetência gerencial, não faltam fantasias voluntaristas de quem se acha capaz de mudar o curso da história, como, aliás, é típico do esquerdismo mais infantil e arrogante. E lista o jornalista pelo menos sete delírios da economista medíocre, que seria mais uma a quebrar a cara sozinha, se não estivesse quebrando todo um país no cargo de presidente da República: descontrole da inflação, do desemprego, perda da confiança dos investidores, rebaixamento da nota do país pelas agências de rating, crescimento negativo, tolerância com a corrupção e negação de seu próprio lema de “pátria educadora” com cortes do orçamento da educação. Enfim, sete porque é a conta do mentiroso, mas se estendêssemos o inventário desde seu primeiro mandato, chegaríamos a setenta e sete lorotas, fácil, fácil. Aliás, para aqueles que alegam a mentira do golpe, no mínimo um falso argumento de absoluta desonestidade argumentativa, vale lembrar a previsão constitucional do impeachment como encurtamento do mandato presidencial em casos de comprovada irresponsabilidade e desonra à mais alta magistratura da República. Como por exemplo, as pedaladas fiscais ou o financiamento eleitoral da campanha presidencial por recursos desviados da corrupção. Afinal, é o que afirma outro provérbio: a mentira tem pernas curtas.
Para além da crise política, a crise econômica é também a crise de confiança dos investidores internos e externos como consequência direta do desapreço petista pela verdade. Pra não falar da desfaçatez com que o governo e seus asseclas mudam de palavra, opinião e crença ao sabor das denúncias e das conveniências de momento. Desde o caso Celso Daniel, passando pelo drama do mensalão, quando o mestre Lula chegou a vir a público interpretar a farsa de sua traição, até as recentes e renitentes negações de participação no atual escândalo do petrolão. Porque o esquerdismo, como doença de todas as doutrinas políticas socialistas, é intrinsecamente comprometido com o romantismo enquanto visão-de-mundo e ideologia cultural. Onde a fuga para uma segunda realidade ficcional se consagrou como negação da própria realidade concreta da história. Doutrinas para as quais, honra, sobretudo honra a contratos, palavra empenhada, sobretudo nas transações comerciais, e confiança, sobretudo enquanto valor moral e social, são meros sentimentos pequeno-burgueses diante da grandeza da empreitada de determinar o rumo da história e a “igualdade” social.
Poderíamos mesmo dizer que a partir da concepção latina, maquiavélica e relativista do “fim que justifica os meios”, somada ao pragmatismo cínico nacional do “é dando que se recebe”, conseguimos baixar a ação política a níveis de degradação e desfaçatez jamais pensados pela civilização ocidental. Desde que na Roma antiga surgiu este valor da honos, honoris, como o reconhecimento do mérito exatamente daqueles que, no exercício da função pública, se destacavam pela retidão e decência de sua conduta, fazendo jus à expectativa de fé pública de seus concidadãos. Ao contrário, nossos políticos, sobretudo os de espectro esquerdista, jamais tiveram o pejo do mentir descaradamente. Despudoradamente. Ignorando até mesmo a advertência de seu prócer Lenin sobre a doença infantil do comunismo. Ou seja: se é a honra e a palavra empenhada que sustentam a confiança, como podem reverter a fuga do mercado investidor, o fantasma da recessão econômica e o desemprego crescente, sem reconhecer no valor da confiança o próprio valor moral primeiro e maior entre todos os demais? Na arrogância típica dos ignorantes, desconhecem que a honra é a condição de possibilidade da própria lei mosaica, base de sustentação de todos os códigos morais e legais do Ocidente. Porque, segundo sua deturpada leitura, não constaria entre os dez mandamentos o “não mentirás”. Como se precisasse, uma vez que se impõe implicitamente na própria condição de cumprimento de todos os demais mandamentos sobre os valores invioláveis da vida, da propriedade, da liberdade, da justiça, da igualdade, entre outros. Além do que, a própria fidelidade na crença do poder divino do primeiro mandamento obrigaria a obediência aos demais. Sobretudo aos pais ou antepassados, a quem devemos explicitamente honrar pelo direito de sucessão. O que torna os homens mais iguais diante da lei divina do que da própria lei dos homens. Ignoram o étimo comum de fides para vocábulos tão diversos como fé, fidelidade, confiança, fiança e fiduciário. Ou seja: se não há palavra empenhada, honra preservada, não há sequer a possibilidade de finanças ou crédito para a formação da riqueza econômica. Para além de que já se tornou unânime a impossibilidade de coexistência de sociedade próspera com regimes socialistas. Uma vez que é a honra que possibilita o futuro.
O que resulta que a descrédito no governo atual é simultaneamente a descrença da maior parte da opinião pública, quanto dos próprios agentes econômicos. Resultado, por sua vez, do arrogante menosprezo esquerdista pelos mais consagrados valores morais ocidentais. Se chegamos ao paroxismo da corrupção como ferramenta trivial da política da sociedade brasileira é porque chegamos à corrupção como ferramenta substancial da vida moral desta mesma sociedade. A dupla Lula-Dilma, como criador e criatura de uma mesma farsa política, conseguirá enganar a todos durante todo o tempo, contrariando o provérbio milenar? Quem em sã consciência ainda acredita nisto? Se criador e criatura não entendem o que venha a ser a honra, limite da dignidade não apenas do mais alto cargo da República, como do próprio ser humano, como esperar uma saída honrosa como a renúncia, ou mesmo a divisão do poder de chefia do Estado com a chefia do governo, num pacto pela governabilidade transparente entre forças políticas diversas, deixando inclusive uma porta aberta para um possível retorno à vida pública? Neste sentido, vale ouvir o depoimento do jurista Fábio Medina Osório que participa de nosso programa de Agentes de Cidadania com uma bela interpretação do atentado à honra inerente ao cargo da presidência da República.
Quanto a Lula, no seu desvario lunático, jogou na lama sua biografia de mito de toda uma geração de milhões de cidadãos e cidadãs brasileiros que nele confiaram. Porque não honrou seus pais, não teve a humildade de entender que era apenas a representação de todo um povo, de um novo e tão desejado Estado de democracia. Cidadãos e cidadãs que confiaram e foram vilmente traídos. Até porque a mitificação política é o entulho demagógico mais difícil de ser removido para o advento de uma plena cidadania. Mas, como diz outro provérbio oriental: “duzentos não podem estar errados”.
Jorge Maranhão
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